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Pesquisa e manipulação
Vários leitores escreveram para reclamar da manchete de terça-feira ("Maioria quer afastamento de Dirceu, mas poupa Lula") e da forma como o jornal
editou, naquele dia e na quarta,
a pesquisa Datafolha que a ensejou (sobre o impacto do caso
Waldomiro Diniz na população). Falou-se em leviandade,
manipulação...
Segundo a reportagem, 67%
dos eleitores brasileiros, de acordo com a pesquisa, consideram
que o ministro-chefe da Casa Civil, a quem Diniz assessorava,
deve se afastar do cargo.
Primeira crítica: como falar
em "maioria dos eleitores" favorável ao afastamento, se 47%
dos pesquisados dizem não ter
tomado conhecimento das acusações contra Diniz, entendendo-se, portanto, que os tais 67%
se referem apenas à parcela restante (53%), que conhece o caso?
Segunda crítica: como afirmar
a existência dessa maioria, se
53% dos pesquisados dizem
nunca sequer ter ouvido falar
em Waldomiro Diniz?
Consultei o diretor do Datafolha, sociólogo Mauro Paulino, e
concluí que, se há, sim, motivo
para o surgimento desses questionamentos, eles, no entanto,
carecem de sustentação e não invalidam, ao fim, a manchete.
Não a invalidam porque a pergunta sobre o afastamento foi
respondida por todos os entrevistados. "Tanto os que afirmaram
ter conhecimento prévio do caso
quanto os que o desconheciam
receberam dos pesquisadores
uma descrição objetiva do ocorrido e só depois opinaram a respeito", esclarece Paulino.
O sociólogo faz uma analogia
com as pesquisas eleitorais:
"Após responder espontaneamente em quem pretende votar,
o entrevistado recebe um cartão
com os nomes dos candidatos e
responde em qual votaria. Ao ser
abordada, a maior parte dos entrevistados nem sabe que haverá
eleição, mas é introduzida ao tema e, depois, tem suas respostas
coletadas e projetadas para o
restante da população."
O diretor do Datafolha admite
haver "restrições" em pesquisas
como essa, na medida em que os
entrevistados "são sempre instados a se posicionar instantaneamente a respeito de questões
muitas vezes distantes de suas
preocupações diárias". "Mas isso", acrescenta, "é inerente a
qualquer pesquisa de opinião".
Penso, porém, que num aspecto aquelas perguntas em tom crítico têm explicação: é que esses
esclarecimentos apareceram nos
textos de forma muito tímida, ao
pé da reportagem de terça.
Além disso, na de quarta, uma
redação confusa dá a entender
que os 67% dizem respeito, não
ao conjunto dos entrevistados,
mas só aos 47% que afirmam ter
ouvido falar em Diniz.
Editorialmente, registre-se,
mereciam mais destaque, também, com menção na Primeira
Página, os dados sobre a ignorância a respeito do caso.
Apontar manipulação ou leviandade, a meu ver, não cabe
aqui. Mas, certamente, faltaram
didatismo e clareza na exposição dos resultados da pesquisa.
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