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A Folha hoje, por seus ex-ombudsmans
Às vésperas da "maioridade" da função de ombudsman
da Folha, pedi aos jornalistas
que implantaram e consolidaram o cargo de representante
dos leitores um breve comentário sobre um aspecto negativo e um positivo do jornal
hoje. Suas respostas:
Caio Túlio Costa (ombudsman de 1989 a 91; hoje é diretor-presidente do IG).
"Negativo: a Folha não consegue mais se diferenciar dos
concorrentes. Os grandes jornais estão muito iguais no
conteúdo, no formato e na linha editorial, todos conservadores. A Folha parece ter se
esquecido da sua capacidade
única de crítica em relação a
tudo e a todos. Perdeu o viço.
Ficou madura, austera e
amargurada."
"Positivo: é o único veículo
da grande imprensa brasileira
que respeita, de alguma forma, o direito de resposta. As
vítimas da imprensa sempre
vão encontrar na Folha um
abrigo, um lugar para inserir a
sua versão seja via cartas, via
ombudsman ou artigos nas diversas seções de opinião."
Mario Vitor Santos (1991-93 e 1997; é diretor-executivo da
Casa do Saber).
"Positivo: o jornal continua
independente e apartidário.
Mais do que tudo: a Folha
continua um jornal corajoso,
intimorato."
"Negativo: o jornal parece
muito repetitivo. Não conseguiu transformar sua agenda
de assuntos. É excessivamente interessado por finanças e
pouco atraído por temas mais
relevantes como a educação.
Se a Folha não consegue mudar sua agenda de temas, colocando a educação como prioridade, como espera que o governo e o país façam o mesmo? Tamanha priorização à
economia financeira, especialmente aos papéis, parece
indicar uma precedência para
os temas que preocupam as
elites."
Junia Nogueira de Sá
(1993-94; é diretora de Assuntos
Corporativos e Imprensa da
Volkswagen do Brasil).
"O melhor da Folha é sua
reputação, construída ao longo dos muitos anos em que o
jornal apostou em inovação e
pluralidade -o ombudsman é
um capítulo disso. Na Folha
surgiram algumas idéias e
práticas que hoje estão disseminadas no jornalismo brasileiro, e que o tornaram mais
moderno e atual."
"O pior do jornal eu prefiro
dividir em duas visões. Na
mais macro, é a subjetividade
que teima em escapar das colunas e contaminar o noticiário, enviesando o que deveria
ser reto e direto. De forma
mais micro, a cobertura rala
que o jornal dá para a área de
negócios, levando a acreditar
que a Folha não vê importância no tema -dominante no
mundo em que vivemos."
Marcelo Leite (1994-97; é
colunista da Folha e mantém o
blog Ciência em Dia).
"Negativo: perda de qualidade do texto noticioso médio
do jornal. Por qualidade entendo o conjunto de características que uma reportagem
deve conter: informação verificada, precisão, interpretação
fundamentada e, bem, estilo.
Todas elas acabam prejudicadas, acredito, com a crise de
recursos que se abateu sobre a
imprensa em geral, conduzindo a uma redução de espaço
(papel) e de equipes, que por
sua vez se tornaram mais jovens e inexperientes."
"Positivo: paradoxalmente,
o jornal me parece um pouco
mais maduro, e com isso quero dizer que aparenta estar
menos precipitado. [...] Mas
isso também pode apresentar
uma face negativa, se implicar
perda de ousadia, agilidade e
irreverência, que sempre foram marca da Folha e do bom
jornalismo."
Renata Lo Prete (1998-2001).
Pelo fato de hoje ser editora
do "Painel", e assim se considerar "parte dos acertos e erros do jornal", Lo Prete preferiu não participar da enquete.
Bernardo Ajzenberg (2001-2004; é escritor e coordenador
executivo do Instituto Moreira
Salles).
"Admiro a ousadia da Folha
de manter um ombudsman -e
tudo o que isso implica interna
e publicamente em matéria de
transparência e crítica aberta- mesmo numa situação tão
intensamente delicada e adversa para a mídia impressa
como a que vivemos, sabendo
que as questões problemáticas
de fundo, a saber, os desafios
do jornalismo -e da Folha-
continuam os mesmos: ética,
apego aos fatos, imparcialidade, criticismo, capacidade analítica, criatividade."
Marcelo Beraba (2004-2007, foi o ombudsman até a semana passada. Preside a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
"Jornais de prestígio como a
Folha estão com dificuldades
para se renovar. A experiência
que tive nestes três anos de
ombudsman mostrou-me que
os leitores continuam a perseguir os valores de sempre do
jornalismo, agora com mais
pressão: qualidade de informação, equilíbrio, inteligência,
serviço, entretenimento, boas
histórias."
"A Folha tem a seu favor a
adoção de práticas de transparência, de correção de erros e
de crítica interna que permitem um permanente questionamento do jornal que produz. Ela segue fiel, ao longo
das duas últimas décadas, à
prática de um jornalismo crítico, de fiscalização, e este é um
grande mérito."
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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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