São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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A Folha hoje, por seus ex-ombudsmans

Às vésperas da "maioridade" da função de ombudsman da Folha, pedi aos jornalistas que implantaram e consolidaram o cargo de representante dos leitores um breve comentário sobre um aspecto negativo e um positivo do jornal hoje. Suas respostas:


Caio Túlio Costa (ombudsman de 1989 a 91; hoje é diretor-presidente do IG).
"Negativo: a Folha não consegue mais se diferenciar dos concorrentes. Os grandes jornais estão muito iguais no conteúdo, no formato e na linha editorial, todos conservadores. A Folha parece ter se esquecido da sua capacidade única de crítica em relação a tudo e a todos. Perdeu o viço. Ficou madura, austera e amargurada."
"Positivo: é o único veículo da grande imprensa brasileira que respeita, de alguma forma, o direito de resposta. As vítimas da imprensa sempre vão encontrar na Folha um abrigo, um lugar para inserir a sua versão seja via cartas, via ombudsman ou artigos nas diversas seções de opinião."

Mario Vitor Santos (1991-93 e 1997; é diretor-executivo da Casa do Saber).
"Positivo: o jornal continua independente e apartidário. Mais do que tudo: a Folha continua um jornal corajoso, intimorato."
"Negativo: o jornal parece muito repetitivo. Não conseguiu transformar sua agenda de assuntos. É excessivamente interessado por finanças e pouco atraído por temas mais relevantes como a educação. Se a Folha não consegue mudar sua agenda de temas, colocando a educação como prioridade, como espera que o governo e o país façam o mesmo? Tamanha priorização à economia financeira, especialmente aos papéis, parece indicar uma precedência para os temas que preocupam as elites."


Junia Nogueira de Sá (1993-94; é diretora de Assuntos Corporativos e Imprensa da Volkswagen do Brasil).
"O melhor da Folha é sua reputação, construída ao longo dos muitos anos em que o jornal apostou em inovação e pluralidade -o ombudsman é um capítulo disso. Na Folha surgiram algumas idéias e práticas que hoje estão disseminadas no jornalismo brasileiro, e que o tornaram mais moderno e atual."
"O pior do jornal eu prefiro dividir em duas visões. Na mais macro, é a subjetividade que teima em escapar das colunas e contaminar o noticiário, enviesando o que deveria ser reto e direto. De forma mais micro, a cobertura rala que o jornal dá para a área de negócios, levando a acreditar que a Folha não vê importância no tema -dominante no mundo em que vivemos."

Marcelo Leite (1994-97; é colunista da Folha e mantém o blog Ciência em Dia).
"Negativo: perda de qualidade do texto noticioso médio do jornal. Por qualidade entendo o conjunto de características que uma reportagem deve conter: informação verificada, precisão, interpretação fundamentada e, bem, estilo.
Todas elas acabam prejudicadas, acredito, com a crise de recursos que se abateu sobre a imprensa em geral, conduzindo a uma redução de espaço (papel) e de equipes, que por sua vez se tornaram mais jovens e inexperientes."
"Positivo: paradoxalmente, o jornal me parece um pouco mais maduro, e com isso quero dizer que aparenta estar menos precipitado. [...] Mas isso também pode apresentar uma face negativa, se implicar perda de ousadia, agilidade e irreverência, que sempre foram marca da Folha e do bom jornalismo."

Renata Lo Prete (1998-2001).
Pelo fato de hoje ser editora do "Painel", e assim se considerar "parte dos acertos e erros do jornal", Lo Prete preferiu não participar da enquete.

Bernardo Ajzenberg (2001-2004; é escritor e coordenador executivo do Instituto Moreira Salles).
"Admiro a ousadia da Folha de manter um ombudsman -e tudo o que isso implica interna e publicamente em matéria de transparência e crítica aberta- mesmo numa situação tão intensamente delicada e adversa para a mídia impressa como a que vivemos, sabendo que as questões problemáticas de fundo, a saber, os desafios do jornalismo -e da Folha- continuam os mesmos: ética, apego aos fatos, imparcialidade, criticismo, capacidade analítica, criatividade."

Marcelo Beraba (2004-2007, foi o ombudsman até a semana passada. Preside a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
"Jornais de prestígio como a Folha estão com dificuldades para se renovar. A experiência que tive nestes três anos de ombudsman mostrou-me que os leitores continuam a perseguir os valores de sempre do jornalismo, agora com mais pressão: qualidade de informação, equilíbrio, inteligência, serviço, entretenimento, boas histórias."
"A Folha tem a seu favor a adoção de práticas de transparência, de correção de erros e de crítica interna que permitem um permanente questionamento do jornal que produz. Ela segue fiel, ao longo das duas últimas décadas, à prática de um jornalismo crítico, de fiscalização, e este é um grande mérito."


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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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