São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

Texto Anterior | Índice

Manchetes em tempo de eleição

A Folha publicou uma semana de manchetes sobre o governo Lula. Reproduzo-as: "Lula ajuda TVs com as concessões ameaçadas" (segunda), "PT e PSDB querem mudar aposentadoria" (terça), "Lula vai vetar aumento de 16,7% para aposentados" (quarta), "Patrimônio de Lula dobra na Presidência" (quinta) e "Lula dá Correios ao PMDB em troca de apoio" (sexta).
É natural que o jornal dedique uma atenção maior para o governo federal, ainda mais em período eleitoral. Mas alguns leitores reclamam da insistência e de alguns títulos.
As manchetes de segunda e de sexta são incontestáveis. São dois fatos relevantes. O primeiro, um levantamento do próprio jornal, que vem acompanhando de forma quase solitária a distribuição de concessões de rádios e TVs com critérios políticos desde o governo Sarney. O segundo, mais uma evidência de como se constroem as alianças políticas no Brasil. A manchete de terça-feira foi produzida a partir de informações colhidas com técnicos e políticos dos dois principais partidos que disputam a eleição presidencial e tem o mérito de provocar um tema que afeta a todos os trabalhadores, mas que os políticos evitam tomar posição durante as eleições para não se desgastarem.
Em relação à manchete de quarta-feira, vi um problema que considero grave. Acho que o assunto merecia ser o principal destaque da Primeira Página, juntamente com a Copa, mas com uma formulação diferente. O jornal defende com afinco a gestão responsável e o equilíbrio das contas públicas. Deveria, portanto, ter deixado claro na linha fina as razões do veto presidencial. Como saiu, ficou parecendo, no contexto eleitoral, que a Folha reprova o veto.
A manchete mais contestada foi a de quinta, sobre o patrimônio de Lula. Alguns leitores viram no título uma prova de que o jornal persegue o presidente. A secretária de Redação Suzana Singer assim defende a opção do jornal: "A manchete está absolutamente correta, baseada nos dados fornecidos pelo próprio presidente da República. A notícia é relevante por várias razões: mostra a relação de bens de Lula e dos principais oponentes, revela que o presidente tem aplicações financeiras no país com os maiores juros do mundo e traz a evolução do seu patrimônio nos últimos quatro anos. São todos fatos de evidente interesse público".
Não tenho dúvida de que o assunto teria de estar na Primeira Página. Não há, no entanto, pelo menos até agora, nenhum problema com a evolução patrimonial de Lula. Como o próprio jornal informa, embora tenha praticamente dobrado, o crescimento é compatível com a renda do presidente e deve ser relativizado pela inflação no período analisado. Por essa razão, concordo com os leitores que escreveram questionando o fato de ter sido a manchete do jornal. Não se justificava.
Os dois casos -as manchetes de quarta e de quinta- exigiam melhor avaliação da Folha. O jornal não pode se deixar levar pelo jogo eleitoral.


Texto Anterior: Ações afirmativas
Índice


Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.