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Manchetes em tempo de eleição
A Folha publicou uma semana de manchetes sobre o
governo Lula. Reproduzo-as:
"Lula ajuda TVs com as concessões ameaçadas" (segunda), "PT e PSDB querem mudar aposentadoria" (terça),
"Lula vai vetar aumento de
16,7% para aposentados"
(quarta), "Patrimônio de Lula
dobra na Presidência" (quinta) e "Lula dá Correios ao
PMDB em troca de apoio"
(sexta).
É natural que o jornal dedique uma atenção maior para o
governo federal, ainda mais
em período eleitoral. Mas alguns leitores reclamam da insistência e de alguns títulos.
As manchetes de segunda e
de sexta são incontestáveis.
São dois fatos relevantes. O
primeiro, um levantamento
do próprio jornal, que vem
acompanhando de forma quase solitária a distribuição de
concessões de rádios e TVs
com critérios políticos desde o
governo Sarney. O segundo,
mais uma evidência de como
se constroem as alianças políticas no Brasil. A manchete de
terça-feira foi produzida a
partir de informações colhidas com técnicos e políticos
dos dois principais partidos
que disputam a eleição presidencial e tem o mérito de provocar um tema que afeta a todos os trabalhadores, mas que
os políticos evitam tomar posição durante as eleições para
não se desgastarem.
Em relação à manchete de
quarta-feira, vi um problema
que considero grave. Acho que
o assunto merecia ser o principal destaque da Primeira
Página, juntamente com a
Copa, mas com uma formulação diferente. O jornal defende com afinco a gestão responsável e o equilíbrio das contas
públicas. Deveria, portanto,
ter deixado claro na linha fina
as razões do veto presidencial.
Como saiu, ficou parecendo,
no contexto eleitoral, que a
Folha reprova o veto.
A manchete mais contestada foi a de quinta, sobre o patrimônio de Lula. Alguns leitores viram no título uma prova
de que o jornal persegue o presidente. A secretária de Redação Suzana Singer assim defende a opção do jornal: "A
manchete está absolutamente
correta, baseada nos dados
fornecidos pelo próprio presidente da República. A notícia é
relevante por várias razões:
mostra a relação de bens de
Lula e dos principais oponentes, revela que o presidente
tem aplicações financeiras no
país com os maiores juros do
mundo e traz a evolução do
seu patrimônio nos últimos
quatro anos. São todos fatos de
evidente interesse público".
Não tenho dúvida de que o
assunto teria de estar na Primeira Página. Não há, no entanto, pelo menos até agora,
nenhum problema com a evolução patrimonial de Lula. Como o próprio jornal informa,
embora tenha praticamente
dobrado, o crescimento é
compatível com a renda do
presidente e deve ser relativizado pela inflação no período
analisado. Por essa razão, concordo com os leitores que escreveram questionando o fato
de ter sido a manchete do jornal. Não se justificava.
Os dois casos -as manchetes de quarta e de quinta- exigiam melhor avaliação da Folha. O jornal não pode se deixar levar pelo jogo eleitoral.
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