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O "off" em xeque
É preciso ter mais cuidado com o "off'; fonte que se preserva na sombra não raramente aproveita para "plantar" dados falsos ou imprecisos que a ajudam
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OS MÉTODOS empregados pelos repórteres
muitas vezes não ficam
claros. Um dos mais preciosos
é o chamado "off the record",
quando o jornalista mantém
em sigilo a identidade de quem
lhe fornece informações. Em
inglês, significa "fora dos registros". É condição que as
fontes impõem em certas circunstâncias.
Foi o "off" que permitiu à
Folha estampar na terça uma
notícia exclusiva: o aposentado Genival Inácio da Silva, irmão mais velho do presidente
da República, havia sido indiciado pela Polícia Federal na
Operação Xeque-Mate.
Vavá, seu apelido, é suspeito
de tráfico de influência no
Executivo e de exploração de
prestígio na Justiça. Os jornais
concorrentes relataram apenas o cumprimento da ordem
de busca e apreensão na casa
do parente de Lula. Ignoravam
o indiciamento.
Outro "furo" sem a nomeação de fonte, contudo, não se
sustentou. Também na terça,
na edição São Paulo/DF, a primeira página anunciou: "Na
Índia, Lula se irritou com a notícia da operação [que atingiu
Vavá] e reclamou a assessores
de não ter sido avisado".
Em página interna: "A Folha apurou que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que
estava na Índia, reagiu com
grande irritação ao ser informado da inclusão de seu irmão
na investigação da PF. Ele reclamou por não ter sido avisado com antecedência e disse a
auxiliares que já havia pedido
ao irmão que tomasse cuidado
para não comprometê-lo".
Já na quarta esse relato sumiu. Em seu lugar, o jornal
descreveu a "contrariedade"
de Lula "por não ter sido avisado do indiciamento com antecedência". Uma coisa é saber
antes da operação, outra é saber antes do indiciamento.
Após bancar as duas versões, sem reconhecer o engano da original, ainda na quarta
a Folha divulgou uma terceira
(mais tarde referendada pelo
Ministério da Justiça e o Planalto): o ministro Tarso Genro alertou o presidente sobre a
operação duas horas antes da
busca e apreensão.
Até a sexta se desconhecia a
verdade. A dúvida inexistiu
para o jornal ao alardear na
terça, sem reservas, a "grande
irritação" do presidente.
A Folha deveria tomar mais
cuidado com o "off". Ele está
na origem de grandes reportagens, mas também na de vexames (o "New York Times" teve
repórter que inventava histórias e as punha na conta de
fontes ocultas).
A fonte que se preserva na
sombra não raramente aproveita para "plantar" dados e
testemunhos falsos ou imprecisos que a ajudam.
De acordo com "O Estado de
S. Paulo", Franklin Martins
"criticou a imprensa por não
fazer uma investigação paralela à da PF [na Operação Xeque-Mate] e supostamente
aceitar o material fornecido
por suas fontes sem questionamento nem averiguação".
O ministro da Comunicação
Social está certo. Acrescento:
sua recomendação vale tanto
para as fontes na polícia quanto para as que os jornalistas
mantêm no Planalto.
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