São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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A novidade

A maior novidade no noticiário das eleições deste ano, até agora, foram as entrevistas feitas com os principais candidatos nos telejornais da TV Globo.
Redimir-se de um passado pouco glorioso, curvar-se, na batalha pela audiência, à necessidade de ajustes para manter a credibilidade numa sociedade na qual as cobranças tendem a crescer na proporção em que a cidadania, mal ou bem, avança -pode-se discutir horas a fio a respeito dos motivos que levaram a emissora a mudar o seu enfoque e a adotar, nessa cobertura, posicionamento que prioriza isenção, visão crítica, busca da verdade.
O fato é que, desde as primeiras entrevistas no "Jornal Nacional", no início de julho, até as do "Jornal da Globo", semana passada, o que se viu foram candidatos de semblante perplexo, às vezes acuados, firmemente questionados, sem que se possa dizer que tenha havido favorecimento expressivo a algum deles.
Há até quem diga que os entrevistadores têm sido agressivos demais, inquisitoriais, mal-educados (um site na internet, sexta-feira, alimentava discussões a esse respeito).
Embora enxergue certa artificialidade, certa ansiedade quase juvenil na postura de alguns -ruído, talvez, entre o hábito de diante da câmera serem sobretudo apresentadores de notícias e se verem levados súbito a inquirir incisivamente políticos cara-a-cara-, embora também detecte neles alguma falta de cintura para arrancar do candidato aquilo que suas perguntas buscam, penso, apesar disso, que o resultado é positivo.
Talvez seja esse um caminho para desmontar ao vivo, de supetão, friamente, as personas moldadas pelos marqueteiros, habituadas, muitas vezes, a "enrolar". Não deixa de ser, esta, uma das funções irritantes, mas indispensáveis do jornalismo.
Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo, contou-me que até agora as perguntas têm sido preparadas com semanas de antecedência a partir de reuniões "de tarde inteira" entre dez pessoas (a cúpula do jornalismo e os entrevistadores) e pesquisas posteriores que lhes dêem sustentação (documentos, fatos, números).
Afirma, ainda, que, "aconteça o que acontecer", qualquer que seja o desenrolar da disputa sucessória ou o comportamento das curvas nas pesquisas de intenção de voto, "manteremos a mesma postura".
A torcer e conferir.



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