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Para reparar mal, jornalismo pode dispensar gancho
Imagine esta situação: você
ou alguém próximo sofre acidente vascular cerebral e o médico resolve combater a rigidez
muscular decorrente (espasticidade) com toxina botulínica.
Aí, você lê no jornal notícia
assim: o uso de toxina botulínica para esse mal não está aprovado pela FDA (agência reguladora da área de saúde e alimentos nos EUA); o único médico
citado diz que poucos colegas
são treinados para aplicar as injeções; e nada se informa sobre
a posição da Anvisa, a congênere brasileira da FDA.
É possível que você se sentisse inseguro a respeito do tratamento adotado por seu médico.
Ainda mais porque muitos planos de saúde neste país o questionam e glosam.
Foi a respeito de um texto assim, que saiu na Folha em 30
de março, que o leitor e médico
Cristiano Milani recorreu ao
ombudsman. Ele dizia que, de
fato, a FDA ainda não aprovou
a toxina botulínica para AVCs
(o que é diferente de ter desaprovado), mas a Anvisa a autoriza para esse fim desde 2000
(informação que consta do
website da agência) e a experiência acumulada do método
no Brasil o torna "uma das
principais ferramentas terapêuticas" na reabilitação de pacientes de espasticidade.
Eu recomendei ao jornal que
pautasse e publicasse reportagem em que constassem a informação de que a Anvisa autoriza o uso da toxina botulínica
para pacientes de AVCs e opiniões diversas de médicos brasileiros sobre a eficácia dessa
medicação nesses casos.
Até quinta à noite, a Redação
se negava a pautar tal texto por
achar que não há "gancho" (fato recente) que o justifique. Eu
creio que a página de saúde não
precisa de ganchos para suas
pautas e que reparar os possíveis males que a de 30 de março possa ter causado é razão suficiente para fazer esta.
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