São Paulo, domingo, 12 de abril de 2009

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Para reparar mal, jornalismo pode dispensar gancho

Imagine esta situação: você ou alguém próximo sofre acidente vascular cerebral e o médico resolve combater a rigidez muscular decorrente (espasticidade) com toxina botulínica.
Aí, você lê no jornal notícia assim: o uso de toxina botulínica para esse mal não está aprovado pela FDA (agência reguladora da área de saúde e alimentos nos EUA); o único médico citado diz que poucos colegas são treinados para aplicar as injeções; e nada se informa sobre a posição da Anvisa, a congênere brasileira da FDA.
É possível que você se sentisse inseguro a respeito do tratamento adotado por seu médico. Ainda mais porque muitos planos de saúde neste país o questionam e glosam.
Foi a respeito de um texto assim, que saiu na Folha em 30 de março, que o leitor e médico Cristiano Milani recorreu ao ombudsman. Ele dizia que, de fato, a FDA ainda não aprovou a toxina botulínica para AVCs (o que é diferente de ter desaprovado), mas a Anvisa a autoriza para esse fim desde 2000 (informação que consta do website da agência) e a experiência acumulada do método no Brasil o torna "uma das principais ferramentas terapêuticas" na reabilitação de pacientes de espasticidade.
Eu recomendei ao jornal que pautasse e publicasse reportagem em que constassem a informação de que a Anvisa autoriza o uso da toxina botulínica para pacientes de AVCs e opiniões diversas de médicos brasileiros sobre a eficácia dessa medicação nesses casos.
Até quinta à noite, a Redação se negava a pautar tal texto por achar que não há "gancho" (fato recente) que o justifique. Eu creio que a página de saúde não precisa de ganchos para suas pautas e que reparar os possíveis males que a de 30 de março possa ter causado é razão suficiente para fazer esta.


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