São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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Dois pesos

A campanha eleitoral segue pobre, tanto sob o ponto de vista político como jornalístico. A melhor contribuição até agora foi a série de entrevistas feita pelo "Jornal Nacional" ao longo da semana com os principais candidatos à Presidência da República.
O desempenho claudicante de todos os candidatos mostrou que os jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes estavam mais bem preparados do que os presidenciáveis.
A Folha foi mal nesta cobertura. A diferença de tratamento dado aos candidatos ficou evidenciada nos títulos e nos espaços que reservou para o noticiário de cada entrevista. O jornal começou com uma cobertura pífia e benevolente na Edição São Paulo de terça-feira e terminou com uma cobertura extensa e bastante crítica na sexta. Na terça, o candidato beneficiado pela falta de vigor do jornal foi Geraldo Alckmin, do PSDB; na sexta, o candidato submetido ao rigor do jornalismo foi Lula.
Vou reproduzir os títulos da Folha e de "O Globo" para os relatos das entrevistas de Alckmin e Lula para mostrar duas coisas: como o jornal deu um tratamento diferente para cada candidato, o que resulta na falta de equilíbrio; e como o jornal do Rio acabou sendo mais crítico do que a Folha na avaliação dos candidatos.
Terça-feira: "No "JN", Alckmin defende política de segurança e promete baixar IR" (Folha) e "Alckmin erra nos números da educação" ("O Globo"). Duas observações em relação ao título da Folha: Alckmin não prometeu baixar o Imposto de Renda no "JN", mas em outro jornal; e o jornal destacou a promessa sem os necessários questionamentos.
Quarta-feira: "Lula ensaia temas polêmicos para entrevista na TV Globo", "Após confusão no "Jornal Nacional", tucano "cola" números sobre a educação" (todos na Folha) e "Alckmin insiste no erro sobre Saeb" ("O Globo"). Na Folha, portanto, o erro de Alckmin virou "confusão".
Sexta-feira: ""Eu afastei Dirceu e Palocci", diz Lula, sob pressão no "JN'" e "Em gafe, petista diz que, no país, só o salário cai" (Folha) e "Nervoso, Lula erra em entrevista" ("O Globo").
O erro, evidentemente, não está na edição de sexta-feira, que mostrou que a Folha sabe fazer jornalismo político crítico quando quer. O problema esteve nos outros dias.
A maior parte das reclamações que recebo é de que o jornal trata melhor os candidatos do PSDB do que os do PT. A cobertura das entrevistas ao "JN" dá razão às queixas.


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