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A questão do apartidarismo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA ombudsman@uol.com.br
Para o jornal, ser visto como imparcial por todos é impossível; o pior é que não basta ser: tem de parecer ser
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NESTA semana, o ombudsman recebeu 42
mensagens de leitores
que se queixavam de falta de
apartidarismo da Folha. Destas, 37 diziam que o jornal foi
a favor do PSDB em diversos
episódios e cinco achavam
que ele favoreceu o PT.
É muito para quem tem de
responder a todas pessoal e individualmente. Mas não chegam a 20% do total endereçado ao ombudsman e são menos de 10% da correspondência enviada ao jornal e nem
0,01% do total de leitores.
Claro que não é o critério
estatístico que determina a
representatividade de um
grupo de leitores. Os que se
dirigem ao jornal, mesmo
poucos, são significativos e
importantes.
Mesmo o contingente que
se manifesta por motivação
ideológica ou partidária é representativo e deve ser levado
em conta pelo ombudsman,
que tem de representar todos
os leitores, inclusive aqueles
que não se dirigem a ele.
O apartidarismo é um dos
pilares do Projeto Folha desde 1984 e continua sendo, segundo manifestação da Secretaria de Redação a mim esta
semana.
Ele foi elevado a essa condição dentro de uma lógica de
mercado, não ética nem política: o público leitor é composto por pessoas que têm diversas visões de mundo e o
jornal não pode abrir mão de
nenhum desses grupos.
Eduardo Guimarães, um
dos mais incisivos críticos da
mídia, com quem tenho intensas diferenças de opinião
mas por quem tenho respeito
intelectual, diz que um jornal
que resolvesse alienar uma
parcela dos leitores que vota
num partido com o desempenho eleitoral que tem tido o
PT no Brasil estaria dando um
tiro no pé.
É verdade. Por que a Folha
o faria? Uma hipótese é que
estaria apostando que num
futuro governo federal tucano, ela teria tantas vantagens
que compensaria o prejuízo
da alienação de leitores atual.
Aí, entra-se no território
das crenças porque é impossível comprovar essa teoria. Eu
não acredito nessa possibilidade. Se acreditasse, não teria
aceitado o convite para ocupar este cargo e, se um dia vier
a crer nela, eu o deixarei.
Três episódios recentes
concentraram os ataques contra a Folha por parte de quem
a julga tucana: o caso Alstom,
a crise gaúcha e a reportagem
sobre doações partidárias.
No caso Alstom, o jornal
"saiu atrasado", como admite
a Secretaria de Redação. Depois do atraso, continuou tímido por semanas. Despertou
depois que o concorrente tomou a iniciativa, mas permaneceu mal. Levou um mês para se manifestar em editorial.
Na sexta, afinal, produziu
uma reportagem convincente
com informações exclusivas e
apontou com clareza a ligação
dos envolvidos com os governos do PSDB em São Paulo.
Na crise gaúcha, o jornal
também fez cobertura modesta até esta semana, quando
afinal -na terça e na sexta- o
assunto foi para a capa.
O pior caso, para mim, é o
das doações partidárias, reportagem publicada com destaque no dia 26 de maio. Dediquei um terço da coluna de 1º
de junho ao tema: a reportagem tratava de forma claramente desigual doações legais
feitas a PSDB e PT por empresas que depois ganharam contratos dos governos federal e
dos Estados de São Paulo e
Minas Gerais.
Embora o valor dos contratos em relação às doações fosse muito maior no caso do
PSDB, toda a ênfase foi dada
aos do PT.
Pedi que a Secretaria de Redação explicasse o critério e
sua resposta não me convenceu: no caso do PT, os pagamentos pelo governo já foram
feitos e no do PSDB, eles ainda
não foram realizados.Teria sido melhor, a meu ver, reconhecer um erro de avaliação.
Ser apartidário num ambiente de divisão política acirrada é muito difícil. Ser visto
como imparcial por todos é
impossível. O pior é que não
basta ser: é preciso parecer
ser. Nestes três casos, a Folha
muitas vezes não pareceu ser.
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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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