São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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O jornalismo incômodo

Com uma chamada no rodapé da primeira página, discreta para a contundência da notícia, a Folha informou em 11 de fevereiro: "O Ministério do Trabalho decidiu repassar R$ 13,5 milhões à CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), ligada à Força Sindical, para treinamento e colocação de mão-de-obra em São Paulo".
"O repasse será feito com verbas do FAT pelo Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), que administra o dinheiro das contribuições do PIS/Pasep dos trabalhadores. Pelo plano, o gasto por trabalhador desempregado recolocado será de R$ 195,33. É quase o dobro (97%) do despendido ano passado pelo governo do Estado de São Paulo no mesmo serviço (R$ 99,25)."
Concedeu-se espaço para a manifestação das entidades. Logo, dirigentes da Força Sindical, do Codefat e da CNTM se pronunciaram em cartas.
Os leitores tiveram acesso às contestações de quem apontou incorreções. É direito deles conhecer versões opostas para formar juízo.
Estado e município de São Paulo rejeitaram transferir à CNTM centros de treinamento. CUT e Fiesp se opuseram ao convênio. A confederação anunciou aumento do número de beneficiados, o que reduz em 31% o custo unitário.
Sobreveio novo furo, "PDT é favorecido pelo Ministério do Trabalho", expondo repasses, cerca de R$ 50 milhões, a entidades associadas a pedetistas. O ministro Carlos Lupi integra o partido. Assegurou-se a palavra a pessoas e organizações mencionadas.
Dias depois, Lupi negou favorecimento e divulgou a criação de um "grupo de trabalho, formado por servidores de carreira (...), para fazer um pente-fino nos convênios e identificar eventuais irregularidades". Prometeu um portal na internet com a lista dos convênios e seus valores.
As negativas responderam à Folha e ao jornal "O Globo", que igualmente descobriu fatos relevantes sobre o Ministério do Trabalho. Convênios foram cancelados. O esforço de reportagem jogou luz sobre acordos que costumam se desenvolver à margem do escrutínio jornalístico.
As revelações tiveram conseqüências positivas, em decisões de governos e de entidades sindicais. A Controladoria Geral da União decidiu investigar os programas.
O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), ameaçou pulverizar até 2.000 ações judiciais contra Folha e "O Globo". Extensa mensagem sua à Folha saiu em Brasil.
O bom jornalismo é crítico e incomoda. O jornal não deveria se intimidar pela hipótese dos processos. Nem enviesar sua cobertura contra o líder sindical, sacrificando a sobriedade vista até agora.


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