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O jornalismo incômodo
Com uma chamada no rodapé da primeira página, discreta para a contundência da notícia, a Folha informou em 11
de fevereiro: "O Ministério do
Trabalho decidiu repassar
R$ 13,5 milhões à CNTM
(Confederação Nacional dos
Trabalhadores Metalúrgicos),
ligada à Força Sindical, para
treinamento e colocação de
mão-de-obra em São Paulo".
"O repasse será feito com
verbas do FAT pelo Codefat
(Conselho Deliberativo do
Fundo de Amparo ao Trabalhador), que administra o dinheiro das contribuições do
PIS/Pasep dos trabalhadores.
Pelo plano, o gasto por trabalhador desempregado recolocado será de R$ 195,33. É quase o dobro (97%) do despendido ano passado pelo governo
do Estado de São Paulo no
mesmo serviço (R$ 99,25)."
Concedeu-se espaço para a
manifestação das entidades.
Logo, dirigentes da Força Sindical, do Codefat e da CNTM
se pronunciaram em cartas.
Os leitores tiveram acesso
às contestações de quem
apontou incorreções. É direito deles conhecer versões
opostas para formar juízo.
Estado e município de São
Paulo rejeitaram transferir à
CNTM centros de treinamento. CUT e Fiesp se opuseram
ao convênio. A confederação
anunciou aumento do número de beneficiados, o que reduz em 31% o custo unitário.
Sobreveio novo furo, "PDT
é favorecido pelo Ministério
do Trabalho", expondo repasses, cerca de R$ 50 milhões, a
entidades associadas a pedetistas. O ministro Carlos Lupi
integra o partido. Assegurou-se a palavra a pessoas e organizações mencionadas.
Dias depois, Lupi negou favorecimento e divulgou a criação de um "grupo de trabalho,
formado por servidores de
carreira (...), para fazer um
pente-fino nos convênios e
identificar eventuais irregularidades". Prometeu um portal
na internet com a lista dos
convênios e seus valores.
As negativas responderam à
Folha e ao jornal "O Globo",
que igualmente descobriu fatos relevantes sobre o Ministério do Trabalho. Convênios
foram cancelados. O esforço
de reportagem jogou luz sobre
acordos que costumam se desenvolver à margem do escrutínio jornalístico.
As revelações tiveram conseqüências positivas, em decisões de governos e de entidades sindicais. A Controladoria Geral da União decidiu investigar os programas.
O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira
da Silva (PDT-SP), ameaçou
pulverizar até 2.000 ações judiciais contra Folha e "O Globo". Extensa mensagem sua à
Folha saiu em Brasil.
O bom jornalismo é crítico e
incomoda. O jornal não deveria se intimidar pela hipótese
dos processos. Nem enviesar
sua cobertura contra o líder
sindical, sacrificando a sobriedade vista até agora.
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