São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Ilusão de ótica


É compulsório, mas insuficiente, não manipular imagens e recusar encenações; a fotografia deve retratar a realidade, e não distorcê-la

Alan Marques 6.set.2007/Folha Imagem


SOBREVIVE em concepções passadistas do jornalismo o olhar que reduz a fotografia a adorno, com função exclusivamente estética. Conforme esse anacronismo, a imagem seria para o texto o que a moldura é para a pintura: uma companhia desimportante.
Como afirma o "Manual da Redação", "a maneira mais convencional e acomodada de encarar a fotografia é tratá-la como um mero complemento da informação escrita. [...] O recurso visual do jornalismo impresso moderno deve ser entendido como uma possibilidade [...] suplementar à informação textual".
Na quarta, o Senado absolveu seu presidente, Renan Calheiros, em processo de cassação. O país sabe hoje mais sobre os negócios do antigo devoto collorido, depois fernando-henriquista e agora lulista que antes das revelações inauguradas com um "furo" da revista "Veja".
Mesmo sem brilho, a Folha fez um bom trabalho e cumpriu o papel jornalístico de fiscalizar o poder. Na essência, fez o que deveria fazer. Em contraste, durante a crise em curso o jornal veiculou fotos que sugeriam o abandono do presidente do Congresso. Ou seja, desinformou -Renan estava longe do isolamento.
É compulsório, mas insuficiente, não manipular imagens e recusar encenações ludibriantes. Como a fotografia, feito o texto, é unidade informativa, ela deve retratar a realidade, e não distorcê-la. Ao exibir Renan solitário em meio a cadeiras vazias, a informação nem tão subliminar era que ninguém o acompanhava.
Igualmente impróprio é mostrar Renan olhando para um lado e José Sarney para o outro. Mensagem: eles divergem. Fato: são aliados.
O fotojornalismo interpretativo pode, no entanto, informar melhor que um tijolaço de escritos. Quando Lula aparenta passar a mão na cabeça de Renan, evidencia-se a bênção do Planalto.
Como na fotografia do general-presidente (1979-85) João Baptista Figueiredo à civil, mas dando a impressão de usar o quepe que era de um militar atrás dele.


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