São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007 |
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Ilusão de ótica
SOBREVIVE em concepções passadistas do jornalismo o olhar que reduz a fotografia a adorno, com função exclusivamente estética. Conforme esse anacronismo, a imagem seria para o texto o que a moldura é para a pintura: uma companhia desimportante. Como afirma o "Manual da Redação", "a maneira mais convencional e acomodada de encarar a fotografia é tratá-la como um mero complemento da informação escrita. [...] O recurso visual do jornalismo impresso moderno deve ser entendido como uma possibilidade [...] suplementar à informação textual". Na quarta, o Senado absolveu seu presidente, Renan Calheiros, em processo de cassação. O país sabe hoje mais sobre os negócios do antigo devoto collorido, depois fernando-henriquista e agora lulista que antes das revelações inauguradas com um "furo" da revista "Veja". Mesmo sem brilho, a Folha fez um bom trabalho e cumpriu o papel jornalístico de fiscalizar o poder. Na essência, fez o que deveria fazer. Em contraste, durante a crise em curso o jornal veiculou fotos que sugeriam o abandono do presidente do Congresso. Ou seja, desinformou -Renan estava longe do isolamento. É compulsório, mas insuficiente, não manipular imagens e recusar encenações ludibriantes. Como a fotografia, feito o texto, é unidade informativa, ela deve retratar a realidade, e não distorcê-la. Ao exibir Renan solitário em meio a cadeiras vazias, a informação nem tão subliminar era que ninguém o acompanhava. Igualmente impróprio é mostrar Renan olhando para um lado e José Sarney para o outro. Mensagem: eles divergem. Fato: são aliados. O fotojornalismo interpretativo pode, no entanto, informar melhor que um tijolaço de escritos. Quando Lula aparenta passar a mão na cabeça de Renan, evidencia-se a bênção do Planalto. Como na fotografia do general-presidente (1979-85) João Baptista Figueiredo à civil, mas dando a impressão de usar o quepe que era de um militar atrás dele. Próximo Texto: Folha amplia normas sobre ética Índice Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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