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DEPOIMENTOS
Rio e Bagdá
Sérgio Costa, diretor de Redação do "Dia", do Rio:
"Não acho possível fazer
bom jornalismo no Rio virando as costas para as comunidades pobres onde não há presença do Estado e o domínio
do crime é evidente. Depois do
episódio do helicóptero, nossas equipes nas ruas passaram
a ser alvos de piadinhas e indiretas de policiais do tipo: "Será
que vale a pena morrer por
uma reportagem?". É uma forma de intimidação. Telefonemas de ameaças para a redação também passaram a ser
constantes.
O que fizemos? Além de providenciar todo o apoio para a
dupla de jornalistas, entramos
em contato com o chefe de polícia, Álvaro Lins. A responsabilidade sobre qualquer incidente ficou bem definida para
a Secretaria Estadual da Segurança do Rio de Janeiro.
Diante dos últimos fatos
combinamos uma série de
procedimentos de segurança,
que já estavam em prática desde a morte de Tim Lopes e que
devemos adotar com mais rigor. Ninguém está proibido de
entrar em favela, mas a necessidade de entrar numa área de
conflito tem sido avaliada caso
a caso e deve prevalecer o bom
senso, sempre. E a decisão soberana do jornalista na rua deve ser respaldada pela direção
da Redação".
Sérgio Dávila é correspondente da Folha na Califórnia e
cobriu toda a guerra do Iraque, até a queda de Bagdá:
"Para a segurança do jornalista, a diferença básica entre a
cobertura de uma guerra e
uma situação de violência como a que vive o Rio hoje é que
numa guerra os ataques são
constantes e efetivos. Assim, é
lógico que o jornalista corre
mais risco numa guerra. Para
ser numérico: nos 20 principais dias do conflito no Iraque,
entre 20 de março de 2003 (o
começo) e 9 de abril de 2003
(queda de Bagdá), dos 150 mil
soldados da coalizão envolvidos no combate, menos de 500
morreram (ou 0,3%); dos cerca de mil jornalistas que participaram da cobertura naqueles dias, 16 morreram (ou quase 2%). Proporcionalmente,
sete vezes mais.
Acho que a situação do Rio
pode ser comparada, sim, embora em menor escala, com a
que vivem os jornalistas em
Bagdá hoje em dia. Os repórteres viraram declaradamente
alvo, tanto de seqüestro quanto de tentativa de assassinato,
o que dificulta enormemente
o trabalho. Há um e-mail famoso rondado a internet agora, da correspondente do
"Wall Street Journal" em Bagdá, em que diz que ela e seus
colegas ficam o dia inteiro sentados no lobby do hotel, esperando as autoridades chegarem para dar a entrevista coletiva do dia. Sair às ruas procurando informações exclusivas
e independentes tornou-se
impossível".
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