São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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Fumaça e fogo

A Folha manteve sobriedade na cobertura dos desdobramentos do assassinato do casal Richthofen numa semana em que prevaleceram na mídia, com destaque para as TVs, a comoção e o sensacionalismo.
Sensibilidade semelhante não se manifestou, porém, no modo como foi tratado o caso Pedrinho, outro que tomou conta de boa parte da imprensa.
Enumerem-se seus ingredientes "humanos": um casal que teve o filho "subtraído" na maternidade e que após 16 anos o localiza a partir de um exame de DNA; um jovem que, duas semanas depois de perder o pai (adotivo) por causa de um câncer, vê sua identidade e sua filiação brutalmente questionadas; uma mãe (agora viúva) com complicada trajetória posta, de repente, ante uma situação na qual pode perder o filho (adotivo) e/ou, talvez, ir para a prisão.
Socialmente, o caso traz à tona, ainda, questões ligadas à prática de adoção no Brasil, à segurança no sistema de saúde, à pertinência de certas leis.
Dos principais jornais, a Folha foi o único a não dar chamada na capa de sábado (9) à confirmação de que o rapaz era o filho biológico do casal Braule Pinto. No domingo, nada saiu. Só na última sexta -depois de mantido quatro dias em páginas internas sem expressivo destaque ou especial investimento jornalístico-, o caso ganhou mais espaço e chegou à Primeira Página.
Cabe refletir se a Folha, por mais que tenha dado tratamento equilibrado ao caso Richthofen, não se deixou seduzir em demasia pelo seu poderoso apelo midiático, dedicando-lhe esforço exatamente em detrimento do caso Pedrinho -também complexo, abrangente, dramático.
O jornal, no mínimo, custou a ver que, por trás da fumaça de um suposto "final feliz", havia, na verdade, muito fogo.



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