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OMBUDSMAN
Sinal vermelho
MARCELO BERABA
O Banco Santos sofreu intervenção na sexta-feira
dia 12. Segundo arte que vem
sendo reproduzida pela Folha, a
primeira vez que o BC apontou
problemas na saúde financeira
do banco foi em 15 de outubro, e
"no dia 5 de novembro o sinal
vermelho foi aceso".
Segundo um dos advogados do
banco, Ricardo Tepedino, "o BC
[Banco Central] fez uma fiscalização muito ostensiva e pouco
discreta [da situação do banco].
Os rumores levaram a uma onda de saques incomum. Foram
R$ 700 milhões nos últimos quatro meses. Essa sangria enxugou
a liqüidez do banco" ("Boataria
causou problemas, diz advogado", Folha, em 14/11).
Na reportagem "Banqueiro
admite problema de caixa" publicada dia 13, sábado, o jornal
informou que o banco "estava
havia pelo menos um ano sob rigorosa inspeção do Banco Central" e que "os rumores de que a
saúde do Banco Santos estava
debilitada já corriam havia bastante tempo no mercado".
Anteontem, todos os jornais
publicaram a nota do ex-presidente José Sarney em que ele informava que havia transferido
seus depósitos do Banco Santos
"em face dos rumores publicados
na imprensa e existentes na praça". Na mesma sexta, outra reportagem informa: "Nos últimos
quatro meses, depois que começaram rumores sobre os problemas na saúde financeira do banco, o caixa da instituição começou a perder muito dinheiro. Em
quatro meses, perdeu R$ 700 milhões em depósitos".
Relato todos estes detalhes porque recebi o telefonema de uma
leitora questionando a Folha
por não ter informado antes que
o banco não estava bem. Correntista, ela se sentiu "traída" pelo
jornal porque não teve a informação que lhe teria permitido
trocar de banco.
Razões de segurança
Se os rumores eram tão fortes e
antigos, por que a Folha não os
noticiou? Por uma razão simples: o jornal não publica rumores, ainda mais se podem provocar uma corrida aos caixas e a
quebra de um banco.
Este procedimento está consagrado no verbete "razões de segurança" do "Manual da Redação": "Em regra, a Folha publica
tudo o que sabe. Mas pode decidir omitir informação cuja divulgação coloque em risco a segurança pública, de pessoa [seqüestro, por exemplo] ou de empresa". É o caso.
A Folha agiu bem ao não divulgar boatos. Seu problema foi
de outra natureza. A responsabilidade que deve ter em assuntos
como este não a exime de estar
bem informada e de orientar o
noticiário para uma cobertura
do interesse do leitor. Não foi o
que aconteceu. No período em
que já corriam os rumores de
que o Santos ia mal, o jornal divulgou três notas que, lidas agora, parecem releases do banco e
passam a idéia de que o banco
estava bem.
A primeira foi dia 3 de setembro na coluna "Mônica Bergamo", como título "Lista VIP": "O
Banco Santos está despachando
cartas de seu presidente, Edemar
Cid Ferreira, a uma lista VIP de
pessoas do país. É para a abertura de contas no banco de varejo
que Ferreira está lançando, e
que aceita pessoas de renda superior a R$ 4.000".
As outras duas saíram no mesmo mês, dia 24, no "Painel S.A.",
com os títulos "Sinal verde". A
primeira: "O Banco Central acaba de homologar o aumento de
capital de R$ 41 milhões do Banco Santos e de aprovar a nova diretoria com Ricardo Gribel na
presidência da instituição. "Trata-se de uma demonstração inequívoca da saúde financeira do
banco", diz Gribel". A outra:
"Gribel acha que a decisão do BC
representa um marco importante na história do Banco Santos.
Segundo ele, o banco vai atuar, a
partir de agora, no segmento de
pessoa física. A instituição registrou no primeiro semestre um lucro líquido de R$ 41,1 milhões".
Nenhum questionamento, nenhuma preocupação em verificar a situação do banco. Não para noticiar que ia quebrar, mas
para mostrar que as medidas
que estavam sendo tomadas
eram reflexos das dificuldades
que o banco vinha passando.
Nenhum veículo noticiou com
clareza que a situação do banco
era difícil. A revista "Exame" do
dia 13 de outubro tem uma reportagem ("Banco Santos altera
sua estratégia") que dá a entender que a instituição tinha problemas, mas não é explícita. Seu
enfoque é o mesmo das notas da
Folha: positivo e acrítico.
É compreensível que a Folha
não tenha publicado os rumores.
Mas nada justifica que tenha alimentado a idéia de que a situação do banco era saudável. O interesse do banco foi preservado,
mas não o do leitor.
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