São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Sem memória

Uma das queixas mais comuns dos leitores é de que os jornais, depois de enorme estardalhaço em cima de algum caso, simplesmente o abandonam, esquecem de dar sequência à cobertura e, por vezes, perdem até mesmo o fio que permitiria retomá-la.
O esquecimento fica mais grave quando há denúncias e reputações de pessoas postas em xeque no momento do escândalo.
Algo desse tipo apareceu na Folha de quinta-feira, num caso em que o jornal havia se destacado ao longo de 1999.
Em 21 de março daquele ano, o caderno de Esporte revelou a existência de um esquema de suborno que teria sido utilizado pela Lusa um ano antes, no Paulistão-98, para "comprar" o goleiro da Portuguesa Santista, a fim de que este facilitasse no jogo entre as duas equipes (o qual acabou em 4 a 4).
O resultado assegurou ao time da capital uma vaga na segunda fase do campeonato.
Envolvendo a diretoria do clube e o empresário do jogador, o caso recebeu chamada de Primeira Página e absoluta primazia no caderno Esporte pelo menos durante dez dias, afora a repercussão em outros veículos.
Depois, manteve-se meses em destaque, até que em agosto a Justiça acolheu denúncia e abriu processo contra três diretores da Lusa e o empresário.
Essa série de reportagens chegou inclusive a ser indicada para o Prêmio Folha, naquele ano.
Passados quase três anos, no semestre passado saiu a decisão da Justiça, em primeira instância, e a Folha, como de resto a imprensa toda, nada publicou.
Até onde pude averiguar, a primeira notícia só saiu no diário "Lance!", no dia 20 de julho.
A Folha, que revelou o caso e fez dele um de seus principais investimentos em 99, só veio a registrar a decisão bem depois, quinta-feira passada, por meio de três notas no Painel FC.
Segundo o editor de Esporte, Melchiades Filho, a opção foi essa porque a fixação e o regime da pena do diretor de futebol condenado ainda não foram calculados pela Justiça (a sentença ainda não é definitiva).
Desde que sejam relevantes, o jornal publica decisões judiciais de primeira instância, ressalvando que cabem recursos.
Num caso como esse, que tanto espanto provocou à época, nada mais natural que o assunto ganhasse bem mais destaque no jornal -ainda mais que houve não só duas condenações mas também duas absolvições.
É certo que a decisão aconteceu meses atrás. Ainda assim, mais valia retomar a notícia, com a ênfase que ela merece, do que quase "escondê-la" em três notinhas.


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