São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O mal do "pensamento único"

Se a inexistência de título na Primeira Página (houve apenas interno) anunciando a decisão do Ministério Público pró-Vavá pode ser interpretada como antipática a Lula, uma notícia publicada pela Folha na terça foi condescendente com o governo federal.
O texto "Sem reforma, déficit do INSS pode triplicar" saiu em Dinheiro. Acompanhou-o a "linha-fina" (abaixo do título) "Projeções do governo indicam que, sem mudança nas regras de aposentadorias, em 2050 não haverá como conter desequilíbrio".
O estudo do Ministério da Previdência sustenta que, conforme escreveu o jornal, "nem o aumento da formalização do mercado de trabalho nem altas taxas de crescimento econômico evitarão a explosão do déficit previdenciário sem uma reforma nas regras de aposentadoria".
É idéia consagrada a de que a Previdência necessita de ajustes. Não faz sentido que o aumento da expectativa de vida não cause impacto na idade com que as pessoas deixam de trabalhar. Por outro lado, há divergências sobre os direitos a sacrificar dos assalariados que contribuíram para ter uma velhice digna.
Em tema controverso, a Folha se satisfez com a palavra oficial. O jornal concedeu só uma referência às opiniões divergentes: "[...] O estudo será usado para rebater os setores que condenam a reforma [...], como a CUT (Central Única dos Trabalhadores)".
Após conhecer os motivos do governo, os leitores não foram informados sobre o argumento dos que "condenam". Comentei na crítica diária: "[O cenário projetado] pode até estar correto, mas funciona mais como instrumento de pressão contra os aposentados, se não confrontado com fontes que divirjam".
A Folha preconiza um jornalismo crítico, mas só fez divulgar a posição do governo, sem questioná-la. Defende a manifestação plural de pensamentos, porém só contemplou um.


Texto Anterior: Cadê Vavá?
Próximo Texto: Jornal destaca "pressão baixa", e não TV pública
Índice


Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.