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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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Os "mais iguais"

A Folha dedicou na quinta-feira amplo e nobre espaço (chamada na Primeira Página e a contracapa do caderno Dinheiro) à notícia da morte do empresário Caio de Alcantara Machado, pioneiro da organização de feiras de negócios no país, ocorrida no dia anterior.
Já o registro do velório e daquela que seria a cerimônia de cremação do corpo saiu, sexta, numa pequenina nota, ao pé da pág. B2 do mesmo caderno.
Essa equivocada desproporção não mereceria comentário nesta coluna não fosse o problema grave que a ela se vincula.
O fato é que, como haviam noticiado rádios e TVs na noite de quinta, e como destacaram vários jornais na sexta, a cremação do corpo do empresário foi suspensa, adiada, quando já estava em curso de execução, por 15 dias por decisão da Justiça.
Motivo: dois dos filhos fizeram à polícia a acusação de que a morte ocorrera por envenenamento, na casa da amante do empresário. A polícia abriu inquérito. O corpo ficará no Instituto Médico Legal para exames.
Você leu alguma dessas informações na Folha de sexta? Não, pois a nota em questão dava a entender que tudo (a cremação) transcorrera como o previsto: "Após o velório, o corpo foi levado ao crematório do cemitério da Vila Alpina, onde aconteceu uma cerimônia em capela ecunêmica" -assim ela concluía.
Segundo a Secretaria de Redação, o jornal teve acesso à informação de que a cremação não aconteceria porque dois filhos do empresário suspeitavam de envenenamento, mas considerou que se tratava de assunto familiar, de suspeita ainda não confirmada por exames.
A prudência é louvável, mas não justifica, no mínimo, a omissão, para o leitor, de uma decisão pública da Justiça e de uma iniciativa da Polícia, sobre as quais não há dúvida.
A mesma cautela, aliás, não se viu na edição de quinta, quando o jornal publicou em alto de página foto e nome de um garçom suspeito -estamos, também, no terreno da suspeita- de atuar no assassinato do empresário José Nelson Schincariol, segunda-feira à noite, em Itu (SP).
Parece ter prevalecido, aqui, a idéia de que, se todos os cidadãos são iguais perante a lei, para o jornal alguns são "mais iguais" do que os outros.


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