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Megapromoção
O assunto está nos jornais desde maio passado. Na Folha, foram sete as reportagens sobre a
pirâmide de 108 andares que o
empresário Mario Garnero, associado a um fundo internacional de investimentos imobiliários, pretende construir no centro de São Paulo.
Das sete, apenas uma abriu
espaço para a avaliação de arquitetos e urbanistas que fazem
restrições à obra.
Das sete, nenhuma assumiu
mais claramente sua defesa do
que a publicada no domingo
passado sob o título "Projeto do
megaprédio chega à Câmara".
Ocupando página inteira, a
reportagem se alimentava de
uma única fonte: o próprio Garnero. Alternava a palavra do
presidente do grupo Brasilinvest e uma profusão de números
sobre o edifício "mais alto do
mundo" (custo, serviços que
promete oferecer, quantos empregos "vai" gerar etc.)
O engajamento do texto não
poderia ser maior. "Por acreditar na rápida aprovação do
projeto, Garnero prevê o lançamento da pedra fundamental
para 25 de janeiro de 2000", relatava a Folha.
"Segundo ele, os vereadores
"não deixarão essa oportunidade escapar das mãos de São
Paulo'" (de fato, os vereadores
não são de deixar escapar oportunidades, ainda que não exatamente para a cidade).
No pé da página, o jornal reconhecia que o Maharishi São
Paulo Tower "divide opiniões".
O embrião pluralista era abortado no parágrafo seguinte, que
passava a enumerar "apoios
importantes", como os de Oscar
Niemeyer e da associação Viva
Centro.
Em seguida, Garnero abria
fogo contra o "nacionalismo tupiniquim" dos que se opõem à
construção do complexo. Um
leitor perguntou à ombudsman:
"Será que a Folha não poderia
ao menos citar os argumentos
dos críticos?". É essa a deficiência da cobertura que o jornal
vem fazendo.
Em artigo na revista "Carta
Capital", Nicolau Sevcenko escreveu que a obra, ao devastar
algumas dezenas de quarteirões
da região próxima ao Palácio
das Indústrias, atingirá "o
oposto do que se pretende".
Segundo o historiador, o prédio "foi oferecido a outras praças, e recusado por sua óbvia
natureza agressiva a qualquer
estrutura urbana".
Na quarta-feira passada, a
rádio CBN promoveu seu segundo debate sobre o assunto.
Ali foram ouvidas avaliações
semelhantes à de Sevcenko e outras de pessoas que enxergam
no empreendimento potencial
para recuperar uma área deteriorada.
Enquanto isso, a reportagem
da Folha tratou o Maharishi
São Paulo Tower como ponto
pacífico. Seu conteúdo é semelhante ao do informe publicitário que vem sendo apresentado
por Garnero no rádio.
O jornal está devendo informação de qualidade e diversidade de opiniões, instrumentos
para que o leitor possa decidir o
que pensa da iniciativa.
A distância entre o que a Folha ofereceu até agora e o espírito crítico defendido em seu projeto editorial é tão grande quanto a que separa o chão do topo
da pirâmide de Garnero.
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