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Sobre cegos, jovens e jornais
Recebi do leitor Alisson
Azevedo, auxiliar judiciário
em Goiânia, a mensagem que
transcrevo abaixo.
"Quero parabenizar Sylvia
Colombo e a Folha pela brilhante reportagem sobre audiodescrição do dia 19. A repórter acertou a mão: ouviu
um grupo heterogêneo de cegos, foi atrás de quem melhor
conceituou e faz audiodescrição no Brasil e, o melhor, tudo
sem pieguice e com leveza.
Para mim, cego e leitor de
jornais, é reportagem paradigmática de como a imprensa
deve tratar cegos e cegueira.
A propósito, e quebrando a
regra de tratar apenas de um
assunto num e-mail, quero lhe
contar uma história sobre cegos, jovens e leitura de jornais.
Tenho 27 anos e desde
criança sempre quis ler jornal.
Aos 7, sonhava ser jornalista e
pedia que alguém lesse para
mim a crônica policial e o resumo das novelas.
Um dia, tinha 8 anos, me levaram à inauguração de uma
imprensa braile. O governador
de Goiás, Henrique Santilo,
prometeu que, num "futuro
breve", seriam impressos diariamente jornais em braile.
Fiquei empolgadíssimo,
mas colegas cegos "mais velhos" e professores me sequestraram a esperança: que o jornal ficaria muito grande, muito caro e que ninguém conseguiria lê-lo num dia.
O surgimento, alguns anos
mais tarde, da internet e dos
ledores de tela, e a disponibilização de versões integrais (e
acessíveis) de jornais na rede,
tornaram viável meu sonho.
Gosto de ler virtualmente o
mesmíssimo jornal que os videntes leem no papel.
Contei essa história porque
sua coluna de domingo passado me remeteu à ambiguidade
de uma maioria de leitores rejeitar o papel em favor da internet e uma minoria buscar
avidamente nela o papel por
anos sonegado."
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