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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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Jornalistas vendedores

A imagem de isenção e independência de um jornal e de seus jornalistas implica contínua vigilância. Como tem traços de subjetividade, criam-se, para além dos princípios éticos gerais, normas objetivas de conduta que traduzem na prática o esforço pela sua manutenção.
Tais regras são uma espécie de pacto público -jornal, jornalista, leitor- pela credibilidade e pelo direito à informação, independentemente do que uns e outros pensem de si próprios em determinadas circunstâncias.
Um anúncio de página inteira de um lançamento imobiliário publicado quarta-feira com texto da colunista Erika Palomino (veja ao lado) fere uma regra do jornal e levanta uma questão importante sobre o tema.
A regra, do verbete "Ética" do "Manual da Redação", diz que:
"O jornalista da Folha não deve participar de anúncio comercial. Fica facultada, porém, a possibilidade de atuação em anúncios de campanhas de interesse público, com autorização prévia da Direção de Redação".
Ao vetar que jornalistas atrelem sua imagem à venda ou divulgação de produtos, esse preceito obriga a que seja explícita, sem margem para nenhuma dúvida, a sua independência em relação a interesses de terceiros que poderiam, em tese, se imiscuir nas páginas do jornal.
Palomino afirma ao ombudsman que, de início, fez um texto como free-lancer apenas para um folheto do lançamento e que, contatada depois sobre a sua inclusão em anúncio, não considerou que isso ofendesse a ética do jornal ou a sua própria.
"Não se tratava de um testemunhal ou de uma recomendação à compra", afirma a colunista. "Apenas exponho as características do bairro e do empreendimento". Caso contrário, diz, teria consultado a direção.
Para ela, o episódio não maculou sua imagem nem a do jornal.
A direção de Redação afirma que não foi consultada previamente sobre o caso e considera que houve um descumprimento de norma clara do "Manual", acrescentando que a colunista foi repreendida pelo jornal.
A participação em anúncio, com efeito, dá asas a especulações, abre campo para comprometer a confiança de leitores no jornalista. E pouco importa, aí, objetivamente, o julgamento que ele faça sobre sua atitude.
O veto a essa participação é um escudo em defesa de sua imagem e, indiretamente, da credibilidade do próprio jornal.


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