São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Regionalismo, proselitismo

Não pretendia tratar de novo de eleições nesta semana, mas sinto-me levado a fazê-lo por causa de dois aspectos dentre os inúmeros que o noticiário jornalístico sobre o tema envolve.
Pela ordem: regionalismo.
O país tem 26 Estados e o Distrito Federal. Pergunta: como as disputas para governador nas outras unidades da federação, fora SP, foram tratadas no caderno de cobertura das eleições lançado pela Folha no domingo passado?
A pão e água, até mesmo na chamada edição nacional do jornal. Confira:
Na estréia, domingo, nada.
Segunda-feira, pesquisa Datafolha, apenas para Rio e Minas.
Terça, um texto sobre o RS e um sobre o Rio, ambos em pé de página.
Quarta: um "abre" de página para acusação contra a governadora do Amapá, um texto sobre o Rio e a seção "Giro pelo país" com três notinhas -tudo em apenas meia página, e, ainda, numa página par, quando se sabe serem tradicionalmente as ímpares as mais valorizadas.
Nessa edição, registre-se, houve na contracapa um quadro que resumia os favoritismos das disputas em todas as unidades, mas com foco direto na sua relação com a sucessão presidencial ("Ciro tem vantagem em eleições estaduais" era o título).
Quinta-feira: um texto sobre o PR e cinco notinhas no "Giro pelo país", tudo em 1/4 de página.
Na sexta-feira, apenas um texto, em pé de página, sobre o RS.
E isso foi tudo, com ressalva para a impugnação da candidatura de Jorge Viana (PT) no Acre noticiada ontem, fato de repercussão nacional que só pode ter pego os leitores de surpresa. Ainda assim, além do AC, só três notas havia sobre outros Estados.
Em eleições anteriores, a Folha conseguia, de certa forma, encobrir o problema com um número bem maior de pesquisas Datafolha feitas fora de SP. Esse recurso, agora, está desidratado.
O jornal, que se considera de porte nacional, precisa achar um modo de honrar essa avaliação. Ou então -o que seria certamente desastroso-, assumir o abandono da idéia de uma cobertura nacional das eleições e ocupar-se apenas das sucessões ao Planalto e ao Bandeirantes, oferecendo de vez em quando pequeninos "giros pelo país".

Colunistas
Recebi cópia de um memorando enviado no início da semana pela Direção de Redação a todos os colunistas do jornal.
Pela importância de seu conteúdo, pedi e obtive autorização para reproduzir a íntegra do comunicado, assinado pelo diretor, Otavio Frias Filho:
"A Folha procura praticar um jornalismo independente, definido como crítico e apartidário. Mantém um leque plural de colunistas, empenhada em trazer ao leitor uma ampla gama de pontos de vista".
"Dadas as pressões e expectativas normais em período de eleições, sempre existe a possibilidade de colunas assinadas se desviarem de seu caráter de informação e análise para se converterem, eventualmente, em veículos de proselitismo eleitoral".
"Ao mesmo tempo, a Folha não gostaria de impedir que os colunistas manifestem seu ponto de vista também quanto a suas possíveis preferências eleitorais, caso considerem tal manifestação imprescindível".
"É por isso que, a exemplo do que já ocorreu em eleições passadas, solicitamos aos responsáveis por colunas assinadas a gentileza de se absterem de incorrer em proselitismo no âmbito desses espaços".
"Textos com esse propósito específico poderão ser publicados na seção "Tendências/Debates" da Página Três, tradicional "tribuna livre" mantida pela Folha".
"Eventuais contribuições com o referido teor de proselitismo deveriam ser encaminhadas à Secretaria ou à Direção de Redação do jornal".

Compromisso
Pode ser mera coincidência o fato de esse comunicado surgir no momento em que o jornal se viu obrigado pelo Tribunal Regional Eleitoral paulista a publicar um Direito de Resposta a uma coluna do caderno Cotidiano, terça-feira passada. Não sei.
De todo modo, ao dar tratamento igual a todos os colunistas -estancando, em tese, uma situação na qual vários deles se sentiam à vontade no uso do jornal para fazer pregação eleitoral mais ou menos velada-, o comunicado implica um compromisso, aqui tornado público.
Ele faz pleno sentido, é bem-vindo, e sua reprodução nesta coluna não tem uma finalidade apenas de ordem informativa.
Como acontece com todos os documentos do gênero, a começar pelo "Manual da Redação", a vigilância permanente dos leitores será fundamental para que ele não morra no papel.



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