São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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Proteção diferenciada


Na quinta-feira, os jornais noticiaram o caso de um funcionário do Senado preso em flagrante sob a acusação de submeter a empregada a práticas sadomasoquistas.
A polícia chegara à casa do analista legislativo, 47, a partir de telefonema da moça, 19. A ex-mulher dele também havia sido presa, acusada de participar das agressões.
Editado com variados graus de destaque, o relato era, do ponto de vista do conteúdo, muito parecido em todos os jornais. Uma única característica diferenciava a versão da Folha das demais: nela foram omitidos os nomes do funcionário e da ex-mulher.
Estranhei a opção. Não esperava que o jornal desse ao episódio a visibilidade que ele obteve no "Globo" (generosa menção na capa, com fotos do acusado e da empregada, esta de costas). A história, embora chamativa e deprimente, tem alcance limitado. É do tipo que a Folha, felizmente, costuma dar sem estardalhaço.
Mas não vi motivo para ocultar a identidade dos dois personagens. Eles foram mais protegidos do que a vítima, que teve as iniciais reveladas no texto.
Não se trata de defender uma política de porteiras escancaradas quando estão envolvidas a reputação e/ou a segurança de pessoas citadas nas reportagens. Nessa questão, errar por excesso de zelo é melhor do que incorrer no equívoco oposto.
Na terça-feira, manifestei na crítica interna preocupação com a foto, publicada na Primeira Página, de uma mulher que acusa a Polícia Militar de Goiás de ter assassinado seu filho.
É certo que ela não pediu para ser mantida no anonimato, empenhada que está em chamar a atenção das autoridades para seu drama. No entanto, a situação de risco me leva a crer que o jornal deveria ter escolhido uma imagem que a preservasse.
De volta ao caso de Brasília, é importante registrar que o acusado assumiu a autoria das agressões em depoimento à polícia, embora tenha afirmado que a empregada estava de acordo e negado o envolvimento da ex-mulher.
Isso não significa que a versão deva ser tomada como definitiva, muito menos que o analista legislativo não tenha direito a defesa. Mas é algo a ser levado em conta na hora de julgar se o jornal deveria ou não tê-lo identificado na reportagem.
Penso que deveria, até por coerência com a conduta anterior da Folha em situações semelhantes. É lógico que a decisão sempre terá de ser tomada caso a caso, porque não há dois idênticos, mas é preciso ter critérios e utilizá-los com transparência.
Do contrário, o cuidado para não cometer injustiças pode ser confundido com proteção diferenciada. O leitor tem o direito de se perguntar se a atitude do jornal teria sido a mesma caso o acusado não fosse funcionário do Senado.


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