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Mais perguntas que respostas
O jornalismo vindouro estará hegemonicamente na internet; ainda que persistam, à procura
de respostas, tantas perguntas sobre o futuro
LOGO na abertura da conferência anual da ONO
(iniciais em inglês da Organização dos Ombudsmans
de Notícias), na segunda-feira,
o "Editor dos Leitores" do semanário inglês "The Observer", Stephen Pritchard, fez
uma breve observação: "Não
há jornalismo em transição,
mas em revolução".
Pritchard se referia ao título
do encontro, "Ombudsmans
em um tempo de transição".
Se algum dos 45 representantes dos leitores (de 13 países)
que compareceram aos três
dias de debates na Universidade Harvard (Estados Unidos)
esperava muitas certezas sobre o futuro do jornalismo,
frustrou-se. Como em tantas
revoluções, há mais perguntas
que respostas.
Algumas previsões começam a virar realidade no exterior, em ritmo mais acelerado
que no Brasil.
Alan Rusbridger, editor do
jornal londrino "The Guardian", bem-sucedida empreitada jornalística na internet, a
partir de um diário convencional, falou do "fim das barreiras
entre o impresso e o on-line".
Richard Chacon, ex-ombudsman do "Boston Globe",
contou como os repórteres
agora saem para as apurações
com apetrechos de áudio e
imagem a divulgar no sítio do
jornal americano. Aqui o hábito é pouco disseminado.
Em sua derradeira coluna
como "Editor Público" (assim
o ombudsman do "New York
Times" é chamado), Byron Calame escreveu que faz "notável progresso" a "transição do
centro de gravidade da Redação para a Web, crucial para o
futuro do "Times'". Calame
ponderou que a transição pode ser "um longo caminho".
Futuro na internet
O aparente paradoxo da
reunião, convocada para discutir a passagem do jornalismo ao mundo digital, é que as
reportagens citadas como referência foram impressas, e
não produzidas para a internet. A reportagem é gênero
jornalístico nobre. É no papel
e na TV que ela se concentra.
Eis uma preocupação de
quem defende os leitores e espectadores -cujo interesse
maior é receber informação de
qualidade: o jornalismo na internet manterá os padrões de
exigência do impresso?
Parece simples, mas não é.
Nelson Castro, ombudsman
do diário argentino "Perfil",
indagou por que jornais e revistas exigem a identificação
dos remetentes de mensagens,
e os sítios e blogs a dispensam.
Reproduzir a linguagem do
papel na tela seria não somente improdutivo, mas um desperdício. Valores caros ao jornalismo devem, porém, prevalecer em todos os meios.
Um dos aspectos fundamentais do debate contemporâneo sobre o jornalismo impresso é a crise que o abate.
Quanto mais é conhecido,
menos se confia nele. É o que
diz pesquisa na Turquia, onde
só 3% dos jornalistas acreditam no que a mídia diz. Nos
EUA, fiascos castigaram sua
imagem -nenhum superou as
cascatas do repórter Jayson
Blair, do "New York Times",
no começo da década.
"Transparência", "prestação de contas", "credibilidade", "justiça" e "equilíbrio" são
princípios, procedimentos e
objetivos a buscar no mundo
inteiro. Foi o que se ouviu na
conferência, na qual se acumularam relatos de como
aqueles ideais são subvertidos.
O jornalismo on-line tem
vantagens claras, além da conjugação de recursos próprios à
TV, ao rádio e à imprensa.
Rusbridger sublinhou que, como a internet permite o acesso
a uma profusão de fontes, haverá -já há- "milhões de checadores de informações".
Para o único brasileiro no
evento, se sobressaiu a impressão de que, nos EUA e no
Reino Unido, a transição para
o jornalismo na rede é conduzida por profissionais do primeiro time, amparados em investimentos fartos.
No Brasil, os jornais destacam quadros talentosos e abnegados, mas que se ressentem de magras estruturas.
Esta timidez fermenta a decadência dos jornais, por mais
tempo que os dedos se mantenham sujos de tinta. Mesmo
que demore -a revolução depende da guinada publicitária
para o novo meio-, o jornalismo vindouro estará hegemonicamente na internet, inclusive os jornais diários. Ainda
que persistam, à procura de
respostas, tantas perguntas
sobre o futuro.
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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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