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Salve a cachaça
Na última quinta-feira, a Folha Equilíbrio publicou uma reportagem de duas páginas que
pede reflexão. Sob o título "Cachaça ganha status de bebida
para ser degustada", o texto revelava como a ação de produtores, exportadores e consumidores desse produto, além do governo, tem alterado a imagem da
bebida nos últimos anos, elevando-a de mercadoria popular para algo, digamos, mais refinado.
A reportagem incluía uma receita com uso de pinga, coordenadas para contatar entidades
relacionadas ao seu mercado e
uma letra de música popular
que faz uma ode à cachaça.
O que merece reflexão, aqui, é
o tom excessivamente promocional do conjunto, que o aproxima
mais da publicidade subliminar
do que do jornalismo.
No texto, a bebida é sucessivamente tratada como "a brasileiríssima cachaça", "produto com
ótimo potencial para exportação", "a branquinha", "o aperitivo preferido do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva", "produto
brasileiro acima de qualquer
suspeita e com um lastro histórico forte". Veja o quadro ao lado.
Como escrevi na crítica interna, nada disso é necessariamente inverdade, mas o conjunto de
classificações soa como algo quase propagandístico.
Acrescentei, como exemplo:
"Não nos é oferecida nenhuma
informação técnica sobre o teor
alcoólico dessa bebida, suas possíveis desvantagens em relação a
outros destilados, quando se está
bebendo em excesso ou não".
Faltou, enfim, uma abordagem jornalística crítica, que, sem
deixar de mostrar a real tendência de glamourização da cachaça, fosse capaz de se distanciar
da campanha agressiva de marketing que esse setor tem feito (e
que, claro, é de seu absoluto direito fazer), com expressivo
apoio do governo, para ganhar
espaço no mercado, no Brasil e
no exterior.
Fica evidente, aqui, como o jornal, mesmo com todo o seu real
aparato de defesa contra manipulações, torna-se, vez por outra,
vulnerável a elas.
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