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Notícias no país do futebol
Foto como as de cima, com cenas anódinas de jogo, devem ser evitadas; já as como a de baixo são recomendáveis, por sintetizarem o que ocorreu e não foi necessariamente visto na TV
É evidente que não pode competir com outros veículos em velocidade e atração imagética, ainda assim o jornal insiste nas velhas fórmulas
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DEPOIS de reclamações
de ordem político-partidária, o maior volume
de queixas que chegam ao ombudsman diz respeito à cobertura esportiva do jornal, particularmente à de futebol. São, em geral, torcedores revoltados com o que consideram atitude preconceituosa contra
seu time de preferência.
Aliás, não é à toa que esses
são os dois temas que mais
mobilizam a emoção dos leitores em relação ao jornal. Já
quase virou lugar-comum dizer que a luta entre PT e PSDB
virou uma espécie de Fla-Flu.
Infelizmente para o país, como adverte José Miguel Wisnik no livro indicado ao lado,
"os Fla-Fus podem ser tão estimulantes e interessantes no
futebol (onde o próprio jogo se
encarrega de reverter de alguma forma a paralisia dos opostos) e tão nefastos na vida intelectual, onde imobilizam e esterilizam o pensamento".
A cobertura de esportes é
uma das áreas que mais sofrem nos jornais impressos as
conseqüências do novo ambiente da mídia. A TV paga,
com seus canais dedicados 24
horas diárias a esportes, os
blogs especializados, a informação via internet, tudo isso
exige do jornal impresso uma
nova atitude se quiser manter
a atenção, o interesse e a lealdade do leitor.
É evidente que ele não pode
competir com os outros veículos em velocidade e atração
imagética. Mesmo assim, continua insistindo, muitas vezes,
nas velhas fórmulas.
A ilustração fotográfica não
pode se limitar a reproduzir
estaticamente o que o torcedor viu dezenas de vezes em
movimento e câmara lenta na
véspera. Ela tem de ser capaz
de sintetizar o significado do
jogo em alguma cena que as
câmeras de televisão por qualquer motivo não puderam registrar ao vivo.
Quanto aos textos, não devem em nenhuma hipótese só
descrever o que o leitor já viu
muitas horas antes. Precisa ir
atrás do detalhe, da informação exclusiva, da opinião avalizada, do enfoque original, do
anúncio de novidades.
Há 20 anos, a Folha inovou
a cobertura esportiva com a
adoção de estatísticas detalhadas das competições. A TV absorveu isso rapidamente. Agora, não é mais um diferencial.
Pelo mundo, claro, também
se discute o que fazer com os
esportes nos jornais. O caráter
cada vez mais mercadológico
da atividade -que até ameaça
seus princípios básicos- tem
feito com que alguns diários
pelo mundo incorporem a cobertura de esportes à de economia e negócios. Pode ser
uma saída.
Mas no Brasil, ao menos em
futebol, o que mais interessa é
o jogo em si. Por isso, o importante é investir em talento e
inteligência. A Folha já tem
excelentes colunistas, que fazem a sua parte. Precisa pensar mais em como superar as
dificuldades no noticiário.
Embora não seja um jornal
nacional (não há nenhum desse tipo no Brasil), este tem repercussão em todo o país. Por
isso, é necessário conter seu
natural bairrismo e dar mais
espaço ao que é importante
em outros Estados.
Também tem de se esforçar
para buscar o inusitado, esclarecer o que ocorre nos bastidores, superar em qualidade
de análise e informação a rapidez e superficialidade dos
meios adversários.
Isso vale não apenas para o
futebol, mas para todas as modalidades. Um leitor fã de Fórmula 1 tem cobrado uma cobertura menos ingênua e mais
crítica da política interna das
grandes escuderias e ele tem
razão em suas queixas. É difícil, mas precisa ser feito.
E, ao mesmo tempo, ainda
há a permanente busca da imparcialidade possível.
Vêm aí os Jogos Olímpicos
de Pequim, mais um grande
teste para o jornal mostrar ao
leitor a sua contínua utilidade.
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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
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