São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Voto no escuro

Pesquisa Datafolha do dia 20 divulgada sexta-feira mostra que 59% dos eleitores paulistas ainda não sabem em quem votar para deputado federal. Nada indica que a situação seja diferente nos demais Estados.
Trata-se de um percentual expressivo -e a imprensa tem grande parte da responsabilidade por isso.
Seja quem for o presidente eleito, a história brasileira revela que, sem apoio no Congresso, a implementação de seu programa (e, portanto, do programa em tese escolhido pela população) fica comprometida.
As disputas proporcionais, no entanto, têm sido tratadas com incrível desdém pela mídia. Raras reportagens enfocaram o assunto de modo a despertar nos leitores maior interesse.
O caderno "Olho no Voto", publicado pela Folha na sexta-feira, é um instrumento valioso para os (e)leitores, e ajuda a romper esse "silêncio". Mas, até mesmo por embutir dados de desempenho apenas dos políticos já eleitos, não resolve o problema.
Só em SP há 793 candidatos a deputado federal e 1.572 a estadual, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No RJ, são 602 e 1.333, respectivamente. Em MG, 554 e 923. Isso para ficar nos maiores colégios eleitorais.
Nos principais jornais brasileiros, somente no dia 9 passado, com o "Globo", teve início a publicação de nomes e currículos de candidatos. O "Estado de S.Paulo" veio atrás, dia 16.
O critério adotado por esses jornais para a escolha dos candidatos divulgados foi o de pedir a indicação dos partidos. Eles se limitam a seus Estados-sede.
Na Folha, a divulgação foi inaugurada somente na segunda (23) e também se limita a SP.
Diferentemente de seus concorrentes, porém, o jornal preferiu fugir do controle das cúpulas partidárias. Reproduz candidatos indicados por personalidades ou representantes de entidades.
Trata-se de um critério que tende a ser mais democrático e qualitativamente diversificado, mas que implica desafio maior, principalmente se a idéia for buscar equilíbrio político.
Nos primeiros dias, o jornal não foi feliz em relação a isso. Na estréia, nada menos do que sete (58%) dos doze indicados (entre estaduais e federais) eram do PT e quatro (33%) do PSDB.
Até ontem, a relação mudou, mas ainda não tão significativamente. O partido de Lula recebeu 14 (28,6%) das 49 indicações publicadas. O de Serra, 12 (24,5%). Bem atrás vem o PMDB, com 5 (10,2%). Veja o quadro.
A busca da imparcialidade, nesse caso, não reside em aplicar na definição do espaço para os candidatos proporcionais os percentuais de intenção de voto de cada candidato a presidente ou a governador, pois nada obriga o eleitor a votar em nomes de uma única legenda. Ela requer, portanto, divisão bem mais equânime entre os partidos.
A uma semana da votação, pode-se estimar que, mantido o ritmo atual, o jornal terá exibido perto de cem candidatos (apenas 4% do total de SP).
É muito pouco e não compensará o quase abandono a que se submeteu o assunto ao longo de toda a campanha.
Que ao menos haja equilíbrio e isenção política na divulgação.


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