|
Texto Anterior | Índice
A verdade de Wilson Simonal
Boa notícia: quase oito anos
depois da morte de Wilson Simonal, o grande cantor começa a ser resgatado do ostracismo. O documentário "Ninguém Sabe o Duro que Dei" é
lançado no festival de cinema
É Tudo Verdade.
Ignoro como o filme narra a
suspeita de que Simonal fosse
informante da ditadura militar. Mas é possível identificar
no jornalismo disposição para
recontar o passado omitindo o
mais relevante, os fatos.
É incompreensão da natureza humana: a idéia de que
todo artista de talento é marcado por gestos edificantes; ou
se for um artista bacana, decerto será talentoso. A falácia
temperou o esquecimento: se
era dedo-duro, Simonal não
merecia a posteridade. Ou,
agora: se craque do suingue,
não haveria de delatar.
A verdade: em 1974, Simonal foi condenado por surra
dada em um contador. No processo, levou como testemunha
sua um detetive do Departamento de Ordem Política e Social do Estado da Guanabara.
Ele assegurou que o cantor era
informante do Dops.
Outra testemunha de defesa, um oficial do 1º Exército,
jurou que o réu colaborava
com a unidade. O juiz sentenciou: Simonal era "colaborador das Forças Armadas e informante do Dops". Em 1976, acórdão do Tribunal de Justiça do RJ reafirmou a condição
de "colaborador do Dops".
Não foram inimigos que inventaram a parceria com o regime, exposta sem reservas
pelos amigos de Simonal, que
se dizia ameaçado por gente ligada "a ações subversivas".
Nesta semana, a Folha tropeçou ao noticiar o documentário: não lembrou as provas
judiciais reveladas por ela
própria em 2000 (transparência: o autor da antiga reportagem foi o hoje ombudsman).
Pelo menos o jornal foi sóbrio. Recusou a campanha jornalística que amalgama a história ao perfilar Simonal, que era senhor dos seus atos, como vítima de maledicência.
Texto Anterior: Esqueçam o que escrevemos Índice
Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|