São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Esqueçam o que escrevemos

(Na íntegra, segue nota da minha crítica da quarta-feira.)
Título do alto da pág. B6: "Vale desiste de comprar mineradora Xstrata". Não houve chamada na primeira página ("Valor" e "Estado" deram), nem na Folha Corrida, que se configura como espécie de segunda capa (o "Globo" veiculou chamada na pág. 2).
Título do alto da pág. B3 da Folha em 14 de março: "Vale fica mais perto de comprar a Xstrata". Trecho da linha-fina: "Anúncio pode ocorrer hoje".
Naquele dia, houve chamada de primeira página para a iminência do negócio.
Hoje: "Segundo Agnelli [presidente da Vale], a aquisição não prosperou porque as empresas não chegaram a um acordo sobre qual delas iria controlar a comercialização dos produtos -e não por causa do valor da compra".
No dia 14: "Tal barreira [quem iria controlar a "comercialização" dos produtos] teria sido superada, com a Vale abrindo mão do direito de venda de parte da produção".
Hoje: "Havia receio no mercado de que a aquisição resultasse em um aumento do nível de endividamento da empresa, o que poderia, em última instância, comprometer o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco".
Doze dias atrás, descreveu-se a opinião do mercado acerca da "capacidade de manter o grau de investimento": "Agora, acredita-se que [a Vale] conseguirá o mesmo [sucesso de negócio anterior, com a dívida refinanciada] na provável aquisição da Xstrata".
Em negociações, há passos à frente e atrás; o cenário pode mudar. O "olhar" do mercado também muda. O jornalismo não tem como acertar sempre; às vezes, erra. O que a Folha devia hoje, no entanto, era um relato sincero e transparente sobre o que mudou.
O jornal estava certo no dia 14? Qual foi o bastidor, então, na reviravolta nas conversas?
Não há balanço, não há memória do "furo".
A Folha deve satisfações aos seus leitores.
(Neca de satisfação: na quinta-feira, o jornal contradisse de novo seu "furo" do dia 14, "esquecendo-o": "Xstrata seria risco para a Vale, dizem analistas". Não ouviu vários "analistas", mas só um, de corretora. O engano na cobertura da compra frustrada deu a impressão de que a Folha confiou demais em fonte interessada. Perguntei, mas a Redação não quis responder sobre seu desempenho.)


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