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OMBUDSMAN
Marcelo Beraba @ - ombudsman@uol.com.br
Nas mãos da CPI
A imprensa já poderia ter tirado a conclusão
de que é impossível confiar nas informações
das CPIs enquanto elas não são oficializadas
MANCHETE da Folha
de terça-feira: "CPI
diz ter provas contra
80% dos investigados". Ou seja, a CPI dos Sanguessugas,
que investiga acusações de
fraudes nas compras de ambulâncias com recursos públicos, tinha provas contra cerca
de 90 parlamentares. Manchete de sexta-feira: "CPI diz
agora que só tem provas contra 30 parlamentares".
A imprensa já poderia ter tirado uma conclusão dos trabalhos das CPIs: é impossível
confiar nas informações enquanto elas não são oficializadas. Melhor, enquanto não estão aprovadas nos relatórios
finais. Até lá, a divulgação das
informações está sujeita a interesses pessoais, políticos,
partidários ou, como neste
momento, eleitorais.
Isso torna o trabalho jornalístico ainda mais difícil. Os
meios têm de saber lidar com
duas forças que freqüentemente os espremem: a obrigação de produzir um jornalismo vigilante em relação aos
poderes públicos (e esse compromisso não pode ser abandonado num país como o nosso, com carência de recursos e
altas taxas de corrupção) e a
necessidade de não cometer
injustiças, de não denegrir, de
não expor as pessoas sem provas. A primeira força exige
ação; a segunda, cautela. Não
são incompatíveis. O bom jornalismo está na produção de
reportagens documentadas
que possam ajudar a sociedade e o país a se precaverem
contra a corrupção.
Os jornais não têm como
deixar de publicar informações oficiais, as que são assumidas publicamente pelos
parlamentares que têm cargos nas CPIs. Mas:
1 - Deveriam ter frentes de
investigações jornalísticas
próprias que os permitissem
confirmar ou questionar com
segurança as informações que
passam para os seus leitores.
No caso dos sanguessugas,
mais uma vez os jornais têm
poucas investigações próprias
e dependem dos informações
repassadas pelos deputados.
2 - As informações não
comprovadas, mesmo as oficiais, devem merecer dos jornais o mesmo tratamento de
destaque que tiveram quando
foram publicadas como se fossem fatos. Como fez a Folha
na sexta-feira, com a manchete que redimensionou as provas colhidas pela CPI dos Sanguessugas.
3 - Deveriam ter mais cuidado com as informações vazadas pelos parlamentares, ou
seus assessores, que não se
deixam identificar. Nesses casos, não deveriam ter pressa.
Mais vale o jornal levar alguns
dias para confirmar uma informação do que publicá-la de
qualquer jeito para não perder
a exclusividade. Já temos um
longo histórico de notícias
originadas nos bastidores
anônimos das CPIs e publicadas com destaque que nunca
se confirmaram.
Isso vale também para notícias saídas sem identificação
de fontes do Ministério Público e das polícias.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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