São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

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Atenção e vigilância

A Folha e o "Estado de S. Paulo" anunciaram em suas respectivas edições, na sexta-feira, a constituição de uma empresa que ficará encarregada da distribuição conjunta dos exemplares dos jornais desses dois grupos em bancas e aos assinantes.
Para quem começou a ler jornal nos últimos anos, quando tantas fusões se deram nos meios de comunicação, tal entrelaçamento pode parecer natural.
Para quem julga conhecer o mercado de jornais paulista há pelo menos cinco anos, eis uma notícia bombástica.
Mesmo limitando a iniciativa ao elo posterior à cadeia de produção, são rivais históricos que se unem após violentas disputas, em especial no terreno comercial. Nenhuma desconfiança ou reticência devem surpreender.
Os grupos alertam que se trata apenas de um acordo para viabilizar uma distribuição mais barata e de melhor qualidade. Nada deverá ser afetado no conteúdo editorial, afirmam.
"O essencial é a redução de custos que a operação trará, num ambiente econômico preocupante para os jornais", disse-me Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha.
A rigor, joint ventures como essa -que levará o nome de S.Paulo Distribuição e Logística Ltda.- já ocorreram em outros países, em especial nos EUA, indo além, inclusive, da distribuição, sem quebrar a autonomia editorial de cada órgão.
Na prática, daqui a alguns meses, os dois jornais concorrentes chegarão juntos às bancas ou aos assinantes.

Qualidade editorial
A consequência mais plausível, no que diz respeito aos leitores e aos jornalistas, é que a qualidade editorial ganhará maior peso na escolha.
Embora de início possa haver a impressão de que com esse acordo a sociedade perderia potencialmente em diversidade de informação, o mais provável -e desejável- é que se acirre a concorrência entre as Redações.
Não mais contaria o horário de chegada em casa ou à banca. O leitor optaria, sempre, pelo jornal que considerasse melhor, de seu agrado.
Não há como negar, por outro lado, que essa associação até há pouco impensável visa a posicionar melhor os dois grupos em termos concorrenciais mais amplos, haja vista a entrada agressiva das Organizações Globo no mercado de jornais paulista (mas não apenas neste), em especial com a compra do "Diário Popular" e sua transformação em "Diário de S.Paulo".
Como tal união afetará -ou não- o casamento entre Folha e Globo no jornal "Valor Econômico" é outra questão, que só a prática poderá responder.

Diferenças
Os leitores devem ficar vigilantes. Se ocorrerem, por exemplo, notícias sobre o Universo Online (ligado à Folha), será essencial verificar se o concorrente dará a cobertura adequada, crítica se preciso for.
O mesmo vale para a Folha se houver fatos relacionados à operadora BCP, da qual o grupo Estado participa.
Mas a atenção não deve parar aí. Se os leitores começarem a notar redução significativa nas diferenças entre os dois jornais, por exemplo, alguma coisa terá dado errado.
Em contrapartida, caso ambos, como se anunciou, mantenham a independência editorial, estimulando, até, a disputa jornalística saudável, seus leitores, com a nova distribuição, poderão ganhar.


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