São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

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Virei pequeno personagem de notícia na Folha, semana passada, e fui vítima, como ocorre com outras fontes, de um equívoco.
Se relato o caso, não é só para esclarecer a leitores que me pediram que o fizesse, mas também para ilustrar os riscos que o jornal corre de cometer injustiças quando informações lhe são dadas apenas por telefone -prática infelizmente bastante comum.
Na crítica interna de segunda-feira, comentei o uso do advérbio "ainda" numa frase da reportagem "Procurador suíço confirma investigação sobre Maluf", publicada domingo (veja ao lado).
Não se tratava de um problema gramatical, mas sim político, editorial: o "ainda", na minha visão, embutia uma espécie de "desejo" (escrevi assim, com aspas) de que o ex-prefeito seja formalmente acusado, quando um texto jornalístico tem de procurar, sempre, a máxima objetividade. Outra formulação cabia ali, sem dificuldade.
Queria apenas chamar a atenção para um detalhe -e muita coisa, num texto, pode ser definida nos detalhes.
A assessoria de Maluf usou o comentário em nota publicada na terça-feira, citando-o literalmente, mas acrescentando, ao final, a formulação "...de uma coisa que ele nunca fez".
Conforme apurei, a nota foi transmitida à Redação pelo telefone, na correria, às 19h30 da segunda-feira.
Na hora, nenhum dos interlocutores parece ter-se preocupado em fazer a distinção clara entre aquele complemento externo e o que eu de fato havia escrito. Para tanto, bastava colocar entre aspas a frase toda que eu redigira, não só a palavra "desejo".
O ombudsman, então, apareceu como tendo feito uma afirmação incisiva (inocentando Maluf) que ele não redigira nem pode afiançar.
Não é a primeira vez que observações de um ombudsman da Folha são usadas por terceiros para atacar o próprio jornal. Faz parte do jogo.
Se outras vierem, que seja, ao menos, de forma fiel, sem se colocar na "boca" da fonte aquilo que ela não afirmou.



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