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Josué Gomes da Silva

O legado de Berlusconi

O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi nem bem renunciou ao cargo e lançou o CD "Il Vero Amore". São 11 músicas que assina como compositor, cantadas por Mariano Apicella.

No governo, o político teve trajetória permeada por acusações, até mesmo de envolvimento com jovens prostitutas, em contraste com o "amor verdadeiro" de seus versos.

Há, pelo menos, uma coerência: o "letrista" volta às origens, pois chegou a ganhar a vida cantando em cruzeiros. Também foi corretor de imóveis e trabalhou muito desde a juventude. Isso é "vero".

Seu esforço pessoal e o seu país deram-lhe a oportunidade de se transformar num magnata. E ainda que tenha usado adjetivo pejorativo para qualificar recentemente a "bota" na mídia, é muito provável que dedique mesmo um "vero amore" pela pátria que lhe propiciou converter-se em empresário bem-sucedido, primeiro-ministro e pessoa internacionalmente conhecida.

Entretanto, ao longo de sua trajetória, é uma pena que Berlusconi tenha colocado em prática um "amor verdadeiro" por dois outros temas: dinheiro e luxúria. E acima do dedicado ao país onde nasceu, cresceu, viveu e prosperou.

Ao inverter valores, atravessou o compasso, cometeu ações equivocadas e perpetrou expedientes condenáveis, tudo em busca de falsas e ilusórias paixões. Também demonstrou incontinência verbal, provocando constrangimentos aos italianos.

Talvez por ter sido liderada de maneira tão heterodoxa por longo tempo, a Itália -de rica história, cultura e capacidade de inovação- perdeu o posto de sétima economia mundial e mergulhou num imbróglio fiscal que ameaça a estabilidade do euro e é uma das causas da crise na Europa, mesmo com o esforço de seu povo criativo e trabalhador.

Berlusconi deixa como legado um CD que muitos italianos talvez nem tenham dinheiro para comprar e outros tantos, prazer de ouvir. Ironicamente, o país que deu a ele as possibilidades de uma vida vencedora e rica viu perdida -pela falta de seriedade de Berlusconi- a oportunidade de avançar ainda mais como uma forte economia mundial.

Com isso, muitos e muitos jovens estão perdendo a mesma chance de uma trajetória próspera. O desemprego na Itália atingiu, no ano passado, a maior taxa da década. A dívida soberana do país é maior do que o seu PIB, despertando desconfiança e medo no sistema financeiro e contribuindo para derrubar Bolsas de Valores em todo o mundo.

A Itália irá superar as atuais adversidades, mas que sirva de exemplo para todos os povos o período emblemático de Berlusconi, que evidenciou a exigência de atitudes mais firmes e íntegras por parte de todos os nossos líderes.

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