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Walter de Mattos Jr.

TENDÊNCIAS/DEBATES

O futebol brasileiro deve adotar o calendário europeu?

SIM

Medida internacionalizará nossos times

O futebol brasileiro progrediu nos últimos anos. O fim das viradas de mesa, a adoção de um calendário que, ruim, se repete desde 2003, a implantação parcial das regras do Estatuto do Torcedor e uma gestão com um viés um pouco mais profissional dos clubes foram muito positivos para o nosso futebol.

Essas melhorias, mais o crescimento de renda, a aproximação da Copa de 2014 e maior interesse das empresas em estarem presentes nesse mundo de paixões, catapultaram as receitas dos clubes de futebol para níveis múltiplos de um passado recente.

Em 2012, haverá três ou quatro clubes que atingirão faturamentos ao redor de R$ 200 milhões, agregando receitas de vendas de direitos de televisão, patrocínios e rendas de bilheteria, todos os itens com preços bem mais altos que antes.

A elevação de receitas, o real forte e a crise da Europa fazem com que seja viável manter craques jogando aqui por mais tempo ou até repatriar jogadores que antes só voltariam para encerrar carreira.

Mas ainda estamos longe de aproveitar o potencial do principal ócio nacional. Reconhecendo que os clubes são hoje mais bem administrados que no passado, ainda estamos muito aquém da governança que reverta à boa exploração destes ativos únicos -as torcidas de cada time.

Para se ter uma ideia de como estamos distantes da elite dos clubes mundiais, o Barcelona, o Real Madri e o Manchester United vão faturar perto de 500 milhões de euros -mais de R$ 1,2 bilhão.

No Brasil, não se formou até hoje uma liga profissional de clubes, única fórmula testada de se organizar e valorizar ativos esportivos coletivos, o caso dos times de futebol.

Os clubes seguem tendo endividamento monumental diante da geração de lucros, tornando a maioria das dívidas impagáveis, ainda que com toda a ajuda do governo federal -Timemanias da vida.

O modelo de propriedade se soma ao alto endividamento e impede que investidores se interessem, exceto quando envolvem ativos bem líquidos, como os direitos sobre jogadores. A realidade é que quase todos entregam o futuro para pagar o presente, popularmente da mão para a boca.

A mudança do calendário, mesmo não sendo panaceia, é a medida mais eficaz disponível hoje para dar o próximo salto. Não pretendo ser exaustivo neste espaço, mas destacar a lógica maior.

O conceito de temporada, usado em todos os esportes coletivos de sucesso, não é usado aqui, pois estamos desalinhados em relação ao calendário mundial (agosto a maio, férias e pré-temporadas no meio do ano) quando ocorrem competições entre países, como Copa do Mundo, Olimpíada e as copas continentais (Copa América e Eurocopa).

A cada quatro anos, seleções se reúnem, convocam os craques e atraem a atenção da mídia mundial.

Aqui, no Brasil, levam os destaques dos times, competem com as competições nacionais e sacam receitas dos clubes. Na Copa do Mundo, paramos e esfriamos o Brasileirão, enquanto no resto do mundo os clubes estão de férias e não têm prejuízo. O conceito de temporada é premissa também para se implantar o conceito de venda de carnês do campeonato, colchão de receitas de todos os grandes times do mundo e quase sem peso aqui.

Deveríamos jogar a Copa do Brasil com os times que jogam a Liberta (mudança anunciada nesta semana, de maneira confusa) e disputá-la num semestre, deixando a Sul-Americana e a Libertadores simultâneas no outro semestre.

Reduzir os deficitários estaduais é também imperativo. Por fim, abrir espaço no calendário para os clubes excursionarem, de modo a faturar altas somas que são pagas nos torneios na Ásia e nos EUA e, mais importante, internacionalizar as marcas dos times brasileiros, fundamental para competirmos com os times europeus por patrocínios e rendas de TV internacionais.

Os jovens do mundo não usam as camisas dos times brasileiros.

WALTER DE MATTOS JR. é o fundador e editor do Grupo Lance!.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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