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Pedra sobre pedra

É bem-vindo o plano anunciado pelo governo federal para combater o que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, definiu como uma "epidemia" de crack no país.

Especialistas estimam que 800 mil brasileiros sejam viciados na droga. O atendimento a dependentes químicos, que inclui também álcool e outros entorpecentes, decuplicou de 25 mil, em 2003, para 250 mil, neste ano.

O problema do crack não é novo, e a inação em todos os níveis de governo contribuiu para que se atingisse o atual estágio. A chamada cracolândia é uma chaga aberta no centro de São Paulo há quase duas décadas. Foi preciso que o consumo da droga se disseminasse por milhares de municípios para o governo anunciar, enfim, um conjunto de medidas com o intuito de enfrentá-lo.

Tema de campanha da presidente Dilma Rousseff, o programa, que prevê investimentos de R$ 4 bilhões até 2014, tem méritos. O principal deles é não tratar a questão exclusivamente sob a ótica policial. Embora a repressão ao tráfico tenha de ser eficaz, é preciso, no que tange ao usuário, valorizar o papel da prevenção e do tratamento clínico.

Nessa linha, anunciaram-se o treinamento de 210 mil educadores para atuar em ações preventivas e a ampliação, de 92 para 400, do número de consultórios de rua. Essas equipes, formadas por médicos e enfermeiros, deverão trabalhar, sobretudo, nas áreas de elevado consumo, com a missão de avaliar os viciados e oferecer auxílio. Além disso, projeta-se a criação de 2.462 novos leitos no SUS, além de enfermarias especializadas.

A acertada ênfase no tratamento ambulatorial precisa, no entanto, ser acompanhada de medidas para reestruturar minimamente a vida dos viciados, muitos deles em situação de total abandono.

Um tema polêmico, contemplado pelo programa, é o da internação compulsória. O recurso dá margem a abusos e deveria se restringir a casos extremos, como o de risco de morte. Transformá-lo em linha mestra da política contra o consumo de crack seria conceder ao Estado poder indevido sobre a vida dos indivíduos e abrir as portas para uma política de perfil meramente higienista.

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