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Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo

TENDÊNCIAS/DEBATES

Custos na ponta do bisturi

Causa estranheza o fato de que alguns médicos no país ainda tenham resistência e até combatam o uso de robôs em determinadas cirurgias

O mundo enfrenta o desafio de manter a qualidade da medicina assistencial e atender a crescente demanda dos serviços de saúde com recursos financeiros públicos ou privados inelásticos. É uma equação difícil de resolver.

A expectativa de vida das pessoas continua aumentando. Fatores ambientais, comportamentais e sociais contribuem para agravar ou provocar mais doenças. As pesquisas científicas são caras e exigem longo tempo de estudos.

Além disso, o complexo que envolve a assistência médica tornou-se tão amplo que não há dinheiro para cobrir tantos custos.

Nesse contexto, médicos, administradores hospitalares e autoridades têm chamado a atenção para a necessidade do permanente questionamento sobre tudo que tenha impacto nos custos.

Um dos focos desse questionamento são os equipamentos com alto grau de sofisticação tecnológica. Eles precisam ser avaliados, e a sua utilização deve ser justificada com base em resultados objetivos. Se os benefícios forem evidentes, não há razão alguma para privar os pacientes dos benefícios.

Por isso, causa estranheza o fato de alguns cirurgiões no Brasil ainda resistirem e até combaterem inovações como a utilização de robôs em determinados tipos de cirurgia.

Os resultados mostram que com a cirurgia robótica o paciente é beneficiado em vários sentidos: redução das complicações pós-operatórias, baixa reincidência em casos de câncer, menos dor no pós-operatório, menor permanência hospitalar e antecipação do retorno às suas atividades normais.

Além de tornar o processo mais seguro e menos penoso para os pacientes, a cirurgia robótica, no final das contas, gera economias.

Segundo Michael Porter e Robert Kaplan, respeitados professores da Harvard Business School, em artigo publicado recentemente na "Harvard Business Review", o maior problema da saúde não é o sistema de seguro nem o lado político, e sim o fato de que "estamos medindo a coisa errada do jeito errado".

Com o inquestionável conhecimento que possuem, eles demonstram que o custo da saúde precisa ser recalculado de forma a considerar o custo total da patologia do paciente para o sistema de saúde com suas potenciais reincidências, complicações ou sequelas, não apenas a internação isolada.

Estudos recentes demonstram que, comparada a outras práticas, a cirurgia robótica oferece os mesmos níveis de qualidade e custo. O tempo contribuirá para melhorar ainda mais esses indicadores, sobretudo com a existência de um número maior de robôs, já que no Brasil há apenas três funcionando.

O preço do procedimento também deverá ser menor, podendo chegar a níveis inferiores aos da cirurgia convencional praticada hoje. Ou seja, a cirurgia robótica é uma inovação benéfica para o paciente e melhor para o todo o sistema, inclusive em relação a custos.

ANTONIO LUIZ DE VASCONCELLOS MACEDO é cirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein e membro fundador da Clinical Robotic Surgery Association, em Chicago (EUA).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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