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À luz do sol

Durante bom tempo, prevaleceu em algumas praias do litoral paulista a prática de restringir ao máximo o acesso de turistas comuns, deixando-as intocadas para o desfrute dos condôminos.

Ainda que continue a se verificar em algumas áreas privilegiadas, esse gênero informal de privatização do espaço público parece sofrer relativo declínio. Não tanto, talvez, pela interferência das autoridades, mas também, e principalmente, pela pressão demográfica.

Facilitado por alguma expansão na malha rodoviária e pelo maior poder aquisitivo da população, o afluxo dos turistas às cidades do litoral -e o de migrantes às suas regiões periféricas- vai erodindo, aos poucos, os redutos de privilégio que ainda restam à beira-mar.

Continua a manifestar-se, entretanto, um fenômeno de privatização em pequena escala, de que dá conta reportagem publicada pela Folha na última sexta-feira.

O espaço nas areias da praia, cada vez mais exíguo, vê-se ocupado pelas barracas e tendas, às vezes nababescas, que funcionários de condomínios e de hotéis armam com antecedência, desde as primeiras horas da manhã, para comodidade de quem os remunera.

Em São Sebastião, município que concentra alguns dos destinos mais procurados nesta época do ano, a invasão de tais barracas é proibida pela legislação municipal -e mesmo assim prospera, como tantas outras coisas neste país, diante do olhar complacente da fiscalização.

O caso reproduz, com um toque bem brasileiro de privilégio, distorções que atravessam de ponta a ponta o cotidiano de quem se aventura pelo litoral nesta época do ano.

A ocupação irregular da praia é o espelho de outra ocupação irregular, mais grave, que se dá nos morros do entorno. Das barracas dos ricos aos barracos dos pobres, o que se vê é a omissão do poder público, que não padece de má arrecadação de tributos nessas regiões.

Omissão que se reflete, nos planos estadual e federal, na má qualidade do serviço de saneamento, nos índices ainda inaceitáveis de praias impróprias para banho, na deterioração contínua das condições de segurança pública.

Turismo predatório, de um lado, privilégio social, de outro; ambiente em petição de miséria convivendo com luxos de Dubai e de Cancún; o estresse urbano dos congestionamentos somado aos surtos de dengue e viroses tropicais: é assim que a sexta maior economia do mundo expõe, nesta época, suas deturpações e mazelas à luz do sol.

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