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Resolver a cracolândia

Ação na área central da cidade de SP pode representar um passo inédito na tentativa de reverter a degradação do local, acentuada pela droga

Nenhuma solução é simples quando se trata de saber o que deve ser feito com a chamada cracolândia -região do centro de São Paulo ocupada por usuários de uma das drogas mais destrutivas (e baratas) já inventadas pelo ser humano.

Mesmo com o apoio financeiro e emocional da família, tratamentos para dependentes de tóxicos podem fracassar seguidas vezes. Que dizer então de todo um contingente de pessoas miseráveis, que criou nas proximidades da estação da Luz formas próprias de socialização e convivência?

O problema tem, como se sabe, um aspecto policial -exigindo a repressão ao tráfico- e uma dimensão social e sanitária, que pressupõe, no mínimo, o estabelecimento de laços de confiança entre equipes de assistentes e usuários da droga.

É muito raro que se consiga conjugar esses dois focos de atuação. A notícia de que será inaugurado, dentro de 30 dias, um centro de atendimento na cracolândia pode indicar o começo de uma presença efetiva do poder público naquela região -um pouco aos moldes do que foi feito em algumas comunidades do Rio, com as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Todavia os acontecimentos dos últimos dias indicam que a desejada coordenação entre ação repressiva e assistência social ainda não se verificou.

Repetiu-se, com mais intensidade talvez, uma daquelas operações vistosas que, como se tem visto nos últimos anos, tendem a deixar tudo como estava tão logo os policiais se afastam do local.

Como não poderia deixar de ser, dependentes de crack espalharam-se pelas regiões vizinhas. Consequência mais grave, segundo especialistas ouvidos pela Folha, é que operações desse tipo podem destruir um trabalho paciente de contato entre assistentes sociais e dependentes, com vistas a um futuro tratamento.

É recorrente, e por vezes beira a demagogia, o emprego do rótulo "higienista" como forma pejorativa de qualificar as tentativas de tornar minimamente habitável a região da cracolândia.

Todavia, seja qual for o rótulo utilizado, uma alternativa clara se impõe. Trata-se de revalorizar uma área urbana específica, ou importa mais concentrar a atuação do poder público sobre a população que a deteriorou?

O bom-senso indica que, com todas as dificuldades que isso impõe, o principal é cuidar dos usuários de crack. De nada adianta apenas expulsá-los do local. Pulverizam-se pelas adjacências e logo reagregam-se em outra áreas.

Ao contrário, a oferta de um local para moradia, alimentação, tratamento e assistência ao usuário, de modo a, na medida do possível, convencê-lo a revalorizar a vida, é o caminho mais correto a seguir. Governo e prefeitura têm falhado seguidamente nesse propósito. Resta saber se agora será diferente.

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