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David Uip

Revolução centenária

Disseminou-se entre os jovens a falsa ideia de que é possível conviver tranquilamente com o vírus HIV, algo que é um verdadeiro absurdo

A epidemia de Aids no Brasil acaba de completar três décadas, com importantes conquistas.

Uma delas é a drástica redução da mobimortalidade, graças à universalização do tratamento gratuito dos infectados com coquetéis de antirretrovirais e às bem sucedidas políticas de prevenção.

Ainda há, porém, inúmeros desafios, como as dificuldades para se descobrir uma vacina eficaz e a preocupante incidência de transmissão entre adolescentes e jovens.

Disseminou-se entre os jovens a falsa ideia de que é possível conviver tranquilamente com o vírus HIV, o que é um verdadeiro absurdo. Por dia, nove pessoas morrem de Aids somente no Estado de São Paulo.

As pessoas que adquirem o vírus, ao desenvolver a doença, passam a ter uma vida limitada, com inúmeros comprimidos para tomar diariamente, com os efeitos colaterais da terapia medicamentosa, com o acompanhamento médico obrigatório e com a possibilidade de ter de enfrentar infecções oportunistas das mais diversas naturezas.

Isso sem falar no preconceito contra os soropositivos, que infelizmente ainda persiste.

Como médico e diretor de um hospital de referência em infectologia que recebeu os primeiros casos de Aids nos anos 1980, penso que repensar o combate à doença e buscar novas respostas e tratamentos para outras moléstias infectocontagiosas são ações essenciais. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas vem se preparando, nos últimos três anos, para enfrentar esse desafio.

O tripé que envolve assistência, ensino e pesquisa é fundamental em qualquer hospital-escola. No Emílio Ribas, hospital de administração direta, as três áreas vêm passando por transformações. Queremos atender melhor os pacientes e aperfeiçoar tanto a produção científica quanto a transmissão do conhecimento aos futuros médicos e profissionais de saúde que irão se dedicar às doenças transmissíveis.

Desde 2009, o hospital mantém um convênio, discutido há quatro décadas, com a Fundação Faculdade de Medicina, uma entidade que auxilia o Hospital das Clínicas da FMUSP a ser o maior e mais bem conceituado hospital público da América Latina.

O modelo de fundações de apoio é importante para aprimorar a gestão e a produção científica de hospitais de ensino como o Emílio Ribas, o Dante Pazzanese e dos hospitais das clínicas de São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas e Botucatu.

Na área de assistência, o Emílio Ribas poderá ativar mais cem leitos em seu prédio de internações, cujo espaço era ocupado para atendimentos ambulatoriais. Com investimentos de R$ 6 milhões do Estado, um novo prédio de ambulatório, reformado e equipado, foi colocado à disposição dos pacientes e do corpo clínico, ampliando a capacidade de consultas com especialistas em quase 70%, de 3.000 para 5.000.

O instituto vem se envolvendo cada vez mais em projetos de prevenção, levando mensagens de alerta para além das portas da unidade hospitalar. Um exemplo foi a recente campanha "Aids, ela não perde uma balada", promovida em casas noturnas tradicionais de São Paulo, com divulgação nas redes sociais e com a parceria de artistas como Adriane Galisteu e Paulo Ricardo.

E, por falar em expansão de fronteiras, o Emílio Ribas ganhou em dezembro sua primeira "filial". Um hospital de 54 leitos no município do Guarujá, totalmente voltado para o atendimento de doenças infecciosas e parasitárias, algo vital para uma região com alta incidência de Aids, de dengue, de leptospirose e de surtos de diarreia.

Completando 132 anos de existência, o Emílio Ribas se renova e inova para revolucionar a assistência, o ensino e a pesquisa em benefício do SUS brasileiro.

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