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BC menos obscuro

Banco Central surpreende analistas ao ser explícito sobre trajetória dos juros e sugere que pode amenizar o padrão cifrado de suas atas

Causou certo alvoroço a divulgação, na semana passada, da ata da reunião em que, oito dias antes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central determinou uma nova redução da taxa de juros básica (Selic) para 10,5% ao ano.

Uma das razões foi o tom inesperado do informe: a autoridade monetária se mostrou menos cautelosa com relação à alta dos preços do que no relatório trimestral que divulgara no final de dezembro. Porém, mais surpreendente foi a mudança no estilo de comunicação do Banco Central.

Os documentos por meio dos quais o BC transmite ao público sua avaliação do estado e das perspectivas da economia, assim como dos fatores que justificariam suas decisões, costumam ser redigidos numa linguagem bastante rebuscada, formal e elíptica.

A recente ata não foge à regra, mas trouxe um trecho, que apesar do uso do jargão, deixa clara a perspectiva de evolução dos juros: "O Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito".

Essa referência mais direta a uma taxa abaixo de 10% chegou a causar contrariedade entre alguns analistas econômicos. Esses profissionais há anos concentram muito de suas atividade em decifrar as entrelinhas das mensagens do BC.

Mudanças no estilo de comunicação das autoridades monetárias têm sido observadas também no exterior. O Fed (banco central dos EUA), por exemplo, há cinco meses afirmava que pretendia manter a taxa de juros básica em nível muito baixo até 2013. Na semana passada, reiterou e estendeu essa sinalização, apontando para juros baixíssimos até o final de 2014.

No caso dos EUA a opção das autoridades monetárias por emitir sinais explícitos sobre suas decisões futuras, contrariando seu proceder tradicional, está ligada ao ambiente mais propício à experimentação criado pela crise financeira global.

Com efeito, as dificuldades enfrentadas por países ricos têm colocado em xeque várias "certezas" acerca das práticas mais recomendáveis de política econômica e, evidentemente, reforçaram a ideia de que "circunstâncias excepcionais exigem respostas excepcionais".

A visibilidade do processo decisório do Banco Central brasileiro ainda é limitada. Não se divulga, por exemplo, o voto de cada integrante do Copom na deliberação sobre a taxa Selic, ao contrário do que se verifica nos EUA.

A decisão de apresentar, na última ata, avaliação um pouco menos misteriosa sugere uma renovação de atitude que poderia avançar muito mais, na direção de um verdadeiro aumento da transparência.

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