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Errologia

Errar é humano, bem se sabe. O que o senso comum em geral ignora é que errar, além de humano, pode também ser científico.

Persiste, para muitas pessoas, a imagem da ciência como um método infalível para atingir verdades definitivas -derivando daí a ideia de que a crença na ciência pode ser da mesma ordem da que embasa um dogma religioso.

Ao contrário, é característico de toda conclusão científica o seu caráter provisório; novas evidências se agregam, cotidianamente, ao corpo dos conhecimentos estabelecidos, de modo a comprová-los, negá-los ou corrigi-los.

Seja como for, a prática usual entre os pesquisadores consiste em só levar ao conhecimento público os resultados de experimentos bem-sucedidos. Ou seja, os que confirmam hipóteses apresentadas, ou que indicam, com dados verificáveis e novas explicações, a necessidade de reformular as anteriores.

Uma ideia ao mesmo tempo simples, útil e simpática promete mudar esse estado de coisas.

Uma nova publicação científica, o "Journal of Errorology", ou "Revista de Errologia", acaba de surgir na internet. Pretende divulgar os resultados negativos, vale dizer, experimentos que, por alguma razão, não "deram certo".

Hipóteses interessantes, mas que o teste da realidade não comprovou, deixariam assim de ser repetidas inutilmente por outros pesquisadores. Ao mesmo tempo, experiências que, por alguma falha, não tenham comprovado saberes consolidados podem ser preciosas, por exemplo, para o aperfeiçoamento das técnicas laboratoriais.

O brasileiro Eduardo Fox, editor do novo periódico, dá um exemplo de sua própria prática. Queria investigar se, suprimindo a função de determinado gene, uma abelha operária poderia transformar-se em abelha rainha. O esperado não aconteceu -abrindo campo para novas hipóteses e, mais do que isso, tornando dispensável que se investissem tempo e recursos em experiências correlatas.

Como na colmeia onde a abelha-rainha e as operárias coexistem, também a ciência, ao lado dos lances individuais de gênio, vive e se aperfeiçoa pelo trabalho de milhares de pesquisadores que se debatem na rotina anônima da tentativa e do erro. Dos erros, melhor dizendo -cuja "contribuição milionária", no dizer do poeta Oswald de Andrade, passa a ser levada em conta inteligentemente.

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