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Desafio à Europa

Líderes mundiais discutem em Bruxelas e em Davos como superar a séria crise financeira sem agravar ainda mais a situação social

As manchetes econômicas dos últimos dias foram dominadas por dois eventos: o Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne a elite global, e o encontro dos líderes europeus em Bruxelas. Apesar dos objetivos diferentes, houve alguns pontos de convergência.

Davos passa por uma tentativa de reinvenção depois de a crise de 2008 ter abalado várias certezas sobre as virtudes do livre mercado. A Europa também almeja um recomeço, com aprofundamento de sua integração, diante da alternativa assustadora de colapso da moeda única.

Em ambas as reuniões figuraram com destaque a preocupação com os custos sociais do atual ambiente recessivo no mundo rico e a constatação de que o modelo das últimas décadas caracterizou-se por inequidade excessiva.

Qualquer que seja o novo caminho, se algum vier a ser encontrado, melhorar a distribuição de renda será um elemento central -em particular nos países desenvolvidos, que veem definhar sua classe média sob a pressão competitiva de novos atores globais.

Os dados impressionam, mesmo antes da crise. Entre 1976 e 2007, de cada dólar adicional de renda gerado nos EUA, 58 centavos foram apropriados pelo topo da pirâmide (1% dos domicílios), uma mudança dramática em relação ao padrão distributivo que vigorara desde os anos 1930. A parcela da renda total apropriada por esse diminuto contingente da população cresceu de 8,9% para 23,5%.

No momento atual de baixo crescimento e alto desemprego -recorde na Europa desde a criação da zona do euro-, a continuidade dessa tendência passa a ser reconhecida pela elite dirigente como politicamente insustentável.

No caso europeu, o problema é ainda mais agudo em razão da austeridade fiscal que será a regra nos próximos anos. Enquanto na Alemanha a desocupação é a mais baixa em décadas, apenas 6,7%, na Espanha atinge 23% da força de trabalho e supera dramáticos 40% na população mais jovem.

Frente a tamanhos desafios, os avanços são tímidos. Sob pressão alemã foi aprovado um novo regime de coordenação dos orçamentos nacionais, com multas de até 0,1% do PIB para o país que ultrapassar limites acordados para dívida e deficit públicos.

Houve consenso de que se trata de pré-requisito para fortalecer a união dos países da zona do euro nos próximos anos. Em troca, haverá um reforço dos mecanismos de proteção e da ação preventiva do Banco Central Europeu, para evitar quebras bancárias na periferia.

Por justiça e por pragmatismo, espera-se que a recém-lançada preocupação social enseje iniciativas adicionais de proteção para os 30 milhões de novos pobres surgidos na Europa. Se não houver fundos para tanto, a perda contínua de legitimidade social poderá ameaçar o próprio projeto europeu.

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