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Impasse na Síria

A cada dia que passa, a situação na Síria se aproxima de uma guerra civil. O ditador Bashar Assad perdeu os escrúpulos em reprimir com força letal os opositores, que também não hesitam em realizar ações armadas.

Houve uma escalada da violência nos últimos dias, com a correspondente multiplicação de mortos para a casa de centenas. Em dez meses, já se contam mais de 5.000.

O pior é que são escassas as perspectivas de solução do conflito no curto prazo. Ao que tudo indica, a oposição a Assad é, por enquanto, militarmente fraca para defenestrar o tirano. E ele já não tem condições de fazer frente à insatisfação popular, que engrossa continuamente as fileiras antigovernistas.

Estreita-se assim, a cada dia, o espaço para uma transição ordenada, como evidenciado na retirada de observadores da Liga Árabe. Ela apresentara o único plano com alguma chance de prosperar -renúncia de Assad em favor de seu vice, que presidiria um governo de transição encarregado de preparar eleições livres em dois meses.

As complicadas relações entre etnias e seitas da Síria dificultam tal saída negociada. A maior dificuldade reside no fato de que Assad e a cúpula das Forças Armadas são alauítas, minoria religiosa que constitui 12% da população.

Historicamente perseguidos pela maioria sunita como heréticos, os alauítas nem eram considerados um grupo islâmico. Isso até chegar ao poder nos anos 1960, com Hafez Assad, pai do atual ditador.

De lá para cá, cinco décadas de rixas políticas se somaram a séculos de diferenças teológicas. A casta dirigente sabe que luta não apenas para manter privilégios, mas também para evitar ser marginalizada ou mesmo perseguida.

Ao contrário do que se deu na Líbia, parece ainda remota a possibilidade de que países ocidentais empreendam uma intervenção armada na Síria. Mas isso decorre mais de interesses e contingências do que de adesão aos princípios de soberania e não intervenção.

Em primeiro lugar, não se vislumbra consenso entre as potências do Conselho de Segurança da ONU para uma ação militar. A Rússia segue em bons termos com o regime de Assad. Conta com apoio da China, que rechaça tudo que se pareça com intervenções estrangeiras sob o manto do humanitarismo.

Mesmo a França e o Reino Unido, artífices da aventura na Líbia, não parecem ansiosos para repetir o feito. Além do alto custo da operação num momento economicamente delicado, sabem que, em termos estratégicos, a situação na Síria é muito mais complexa.

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