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Hélio Schwartsman

O genocídio armênio

SÃO PAULO - A história não é a mais exata das ciências. Pode-se até discutir se ela é mesmo uma ciência. Ainda assim, é perfeitamente possível estabelecer, para além de qualquer dúvida razoável, que certos fatos do passado realmente ocorreram. Um deles é o genocídio armênio.

Nenhum historiador minimamente sério questiona que, a partir de 1915, turcos otomanos deram início a uma política sistemática de eliminação da população armênia que vivia no império. Calcula-se que, em um ano e meio, entre 500 mil e 1,5 milhão de armênios foram mortos. Foi o primeiro grande genocídio do século 20, tão pródigo em hemoclismos.

Há abundante documentação histórica a respeito. Negá-lo é o equivalente de afirmar que os campos de extermínio de Adolf Hitler nunca existiram, ou seja, um delírio completo.

Faço essas observações a propósito do texto de Luiz Carlos Bresser-Pereira publicado na Folha na segunda-feira em que ele critica a decisão do Legislativo francês de tornar crime a negação do genocídio de 1915 e que está rendendo protestos da comunidade armênia. Acho que Bresser foi infeliz ao deixar de mencionar que a matança, de fato, ocorreu e representa um crime contra a humanidade, mas ele levanta uma discussão relevante: faz sentido que parlamentos se ponham a legislar sobre a história de países estrangeiros?

E, como ele, eu creio que não. O passado, afinal, é por definição uma esfera imune à atividade parlamentar. Dizer o que aconteceu nas primeiras décadas do século 20 no Império Otomano é tarefa para historiadores, não para políticos franceses.

É claro que não podemos limitar essas observações ao caso armênio. Vejo com igual desconfiança as várias legislações europeias que criminalizam a negação do Holocausto judeu, não porque não tenha ocorrido, mas porque não dá para exigir que as pessoas só digam verdades. Se a moda pega, literatura, religião e boa parte da ciência ficariam fora da lei.

helio@uol.com.br

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