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Hilda Diruhy Burmaian

Uma luz sobre o genocídio armênio

Reconhecer essa triste passagem da história é uma forma de evitar que novos massacres ocorram contra qualquer outro povo

Acompanhamos com especial atenção as discussões provocadas a partir da publicação, por este jornal, de um artigo a respeito da legislação francesa que torna crime a negação do genocídio cometido contra o povo armênio no início do século passado.

A partir de 1915, os armênios sofreram uma perseguição que durou três anos e ceifou a vida de aproximadamente 1,5 milhão de armênios, o que também provocou uma diáspora e levou famílias inteiras a buscar abrigos em outros países.

Os relatos dessas perseguições são chocantes e estão fartamente documentados. Para fugir das ameaças, famílias inteiras tiveram que deixar suas casas e atravessar o deserto -caminhando.

Na fuga pelo deserto, muitos bebês foram abandonados pelo caminho. Os que conseguiram chegar ao Líbano e à Síria foram socorridos pelos franceses, como é o caso daqueles que chegaram à cidade de Musa-Dagh.

A diáspora armênia -a primeira do século passado- espalhou quase 5 milhões de armênios por vários países do mundo. Bastante, quando consideramos que vivem no território armênio hoje 4 milhões de pessoas. Entre os países que acolheram os armênios está o Brasil, onde vivem hoje cerca de 70 mil. Na França, são aproximadamente 700 mil.

A França foi um dos primeiros países a prestar ajuda humanitária aos refugiados armênios, providenciando barracas militares, roupas, comida, atendimento médico e documentos.

A França é o berço da liberdade, da igualdade, da moderna noção de direitos humanos. A França ensinou ao mundo -e continua ensinando- o respeito ao ser humano em sua plenitude.

O que a França tem a ver com a luta mundial pelo reconhecimento do genocídio armênio? Tudo. Por sua história, por sua tradição, pelos ideais que a nação profere desde a grandiosa revolução que mudou a face política do mundo, pelos infinitos filósofos e teóricos franceses que lançaram luzes sobre o conhecimento humano.

Declarar crime a negação das atrocidades cometidas contra a humanidade é um imperativo da justiça. Talvez muitas pessoas não conheçam a relação direta que há entre o genocídio armênio e o papel da França. Muitos brasileiros até desconhecem esse fato histórico. Mas, certamente, conhecem o papel da França no cenário histórico mundial dos direitos humanos.

E, dentro do debate sobre direitos humanos, o genocídio armênio é um capítulo que não pode ser esquecido, negligenciado ou apagado. Afinal, se nós não aprendermos com a história, vamos aprender com o quê?

É nesse contexto que nós enxergamos o alcance e a profundidade da legislação criada pela França e que entendemos que deva ser repetida em outros países. Não se trata de reescrever a história, mas de reafirmar o compromisso da humanidade em manter as relações entre os povos no mais elevado padrão, respeitando diferenças entre as nações e a integridade física e moral dos seres humanos e celebrando sua diversidade.

Nós, armênios, lutamos pelo reconhecimento do genocídio cometido contra nosso povo. Reconhecer essa passagem triste da história da humanidade e não permitir a sua negação é uma forma de evitar que, no futuro, novos massacres sejam praticados contra os armênios ou contra qualquer outro povo.

Nós, armênios, lutamos pelo reconhecimento do genocídio para que esta triste passagem da história da humanidade não se repita. Nunca mais.

HILDA DIRUHY BURMAIAN é consulesa-geral honorária da República da Armênia em São Paulo (São Paulo, SP)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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