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Josué Gomes da Silva

Paz e desenvolvimento

Nos escombros do maior conflito da história, no qual morreram 60 milhões de pessoas, nasceu a reconstrução da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, sob a bandeira de uma paz duradoura.

Desde a constituição da Benelux, estabelecendo incentivos tributários e aduaneiros entre Holanda, Bélgica e Luxemburgo, até a concretização da União Europeia e a posterior instituição do euro, foi um longo caminho de negociações, eliminação de barreiras e antagonismos.

Sob a égide da boa vontade, construiu-se uma economia única e um território sem fronteiras. O sucesso no plano político foi incontestável, assim como os ganhos em termos de relações internacionais, incluindo as questões aduaneiras e alfandegárias, a livre circulação de pessoas e mercadorias, a desburocratização e a queda de vistos.

Do ponto de vista econômico, também não se pode dizer que a UE fracassou. Ao contrário, com um mercado constituído por cerca de 500 milhões de pessoas (7,3% da população mundial), o bloco tem PIB nominal em torno de US$ 16 trilhões, aproximadamente 20% do mundial e maior do que o dos Estados Unidos, que passaram por todas essas mesmas dificuldades para a formação de sua federação e souberam se fortalecer na união.

Talvez o maior problema europeu, ao adotar uma política monetária e cambial única para todos os países do bloco que têm o euro como divisa, tenha sido não estabelecer uma coordenação na área fiscal. Moe-da única não pode ter taxas de juros, paridade, inflação e liquidez diferentes em cada país de um bloco econômico.

Porém a adoção de diferentes políticas fiscais levou várias nações a acumularem dívidas públicas enormes. E a injeção de dinheiro do Estado na economia, adotada como medida anticíclica após o crash de 2008/2009, agravou o histórico desequilíbrio nos seus gastos públicos.

Neste exato instante, ocorre delicada negociação de novo pacto fiscal, onde cada membro da UE cederá parcela de sua soberania para o governo central que poderá impor regras fiscais únicas e rígidas. Toda a formação de um Estado federado pressupõe tal cessão para ter unidade. Fácil no discurso, difícil na prática.

Essas complexidades, porém, não são pretextos para a dissolução da UE, que deve prevalecer, não apenas pelos inegáveis valores econômicos, mas, sobretudo, pelos políticos. A presente crise, embora grave, pode representar, por outro lado, uma grande oportunidade de aperfeiçoamento das normas que regem o bloco fortalecendo a sua união.

Esse deve ser o olhar prioritário, em novos tempos, possibilitando uma reação sob o paradigma da tolerância que inspirou a UE. Política e economia juntas, paz e desenvolvimento!

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.

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