Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Kenneth Maxwell

Diário

Eu estava arrumando meus guardados nesta semana.

O que sobrevive é espantoso. Em resumo: retratos arbitrários do passado.

A sexta-feira passada foi o 60º aniversário da morte do rei George 6º. Neste ano, a rainha Elizabeth 2ª celebra seu jubileu de diamantes e se torna a monarca com o segundo mais longo reinado na história britânica. Quando o rei morreu, em Sandringham House, uma propriedade rural da família real em Norfolk, sua filha estava no Quênia com o príncipe Philip, seu marido. Voltou ao país como rainha.

Entre meus papéis, encontrei meu "Letts School-Boys Diary", de 1952. Está caindo aos pedaços. Em 6 de fevereiro de 1952, uma quarta-feira, escrevi: "O rei morreu, e a bandeira está a meio-pau".

Era meu primeiro ano de colégio interno longe de casa. Meu aniversário caíra no domingo anterior e anotei que "ganhei muitos presentes, uma caixa de chocolates e alguns livros". O racionamento de alimentos ainda estava em vigor, sete anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, e uma caixa de chocolates era, decerto, um verdadeiro presente.

Os livros que eu lia eram anotados no final do diário, em uma seção intitulada "lista de livros". Eram todos de Arthur Ransome, então o meu escritor preferido.

Depois de cada um dos títulos, comentei: "Muito bom". Um deles mereceu o comentário "realmente muito bom". O diário termina com um mapa da "Commonwealth britânica". Boa parte do mundo continuava colorida de vermelho.

Também encontrei meu livro de recortes de 1952. Colei cuidadosamente fotos do funeral do rei George 6º, entre elas uma imagem famosa, "três mulheres de véu preto": a rainha, a rainha-mãe e a rainha Mary, todas usando véus escuros e espessos, assistindo enquanto o caixão do rei era conduzido a Westminster Hall para ser velado. A procissão fúnebre foi encabeçada pelos duques de Edimburgo, Gloucester, Windsor e Kent.

Atrás deles, alinhavam-se os reis da Suécia, do Iraque, da Grécia, da Dinamarca e o presidente da França, seguido pelos presidentes da Turquia e da Iugoslávia e pelos príncipes herdeiros da Jordânia, da Noruega e da Etiópia.

Na mesma página do diário em que escrevi sobre a morte do rei, havia uma velha foto me mostrando quando bebê em meu carrinho. Foi tirada pelo meu pai, em 1941. Estávamos em Huish Champflower, uma pequena aldeia em Brendon Hills onde minha mãe dirigia a escola local.

No fim de semana passado, minha irmã e eu estivemos lá pela primeira vez em meio século. Visitamos a igreja, onde ambos fomos batizados. Meu avô está enterrado lá.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de Paulo Migliacci.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.