Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

José Henrique Reis Lobo

Prévias tucanas

As prévias para as eleições em SP acarretam riscos enormes e estão metendo o PSDB em uma encalacrada; há tarefas que competem aos líderes

As anunciadas prévias do PSDB estão metendo o partido numa encalacrada sem tamanho.

Com todo o respeito aos pré-candidatos, quem decide uma eleição é a população de uma cidade. Militantes quase sempre raciocinam espremidos pelas paredes partidárias, que limitam a visão ao espaço onde se encontram. Há tarefas que competem aos líderes e que eles não devem delegar.

Fosse o Brasil um país de partidos sólidos, talvez fosse possível compreender que eles dispensassem a decisão, em instância final, das suas lideranças. Mas não é essa a realidade que vivemos.

Aqui, partidos se formam de cima para baixo, para atender necessidades de vários matizes. Eles nem sempre representam, efetivamente, os pontos de vista de algum segmento expressivo da sociedade. A exceção poderia ser o PT, não fosse o senhor Luiz Inácio Lula da Silva haver conspurcado, em sua gestão como presidente da República, a trajetória inicial do partido, tirando-lhe as características ao se aliar ao que há de pior na vida pública nacional.

Se é esse o quadro, o PSDB deveria se ater à realidade até que tenha condições de mudá-la, para adequá-la a procedimentos mais consentâneos com a necessidade de aprimoramento da representação popular e, consequentemente, de fortalecimento da democracia.

Para tanto, ganhar as eleições é imprescindível para que, no exercício do poder, o partido possa promover as transformações que são necessárias para que o país avance politicamente. Ganhar ou perder faz parte do processo. Mas não se pode correr o risco de perder de véspera simplesmente para cortejar as "bases" do partido, como se a vontade dessas representasse a da população.

Sejamos objetivos, portanto. O PSDB tem de ter um projeto de poder não com o objetivo de ocupá-lo para usufruir benesses e distribuí-las, mas sim com o propósito de promover as transformações que são necessárias para o desenvolvimento do país e para o aprimoramento das instituições.

Submeter as candidaturas a prévias acarreta riscos enormes de derrota, com graves prejuízos para o PSDB e para a população da capital, que vai ter que acabar se havendo com um modelo de gestão que aqui, há algum tempo, tem sido repudiado.

Paralelamente, esse desfecho terá implicações tanto no Estado quanto no plano nacional, já que ninguém desconhece o projeto petista de derrubar a última e mais importante trincheira, fincada em São Paulo, como parte de seu objetivo de prevalecer indefinidamente à frente do poder no Brasil.

Na Alemanha, a inoperância dos social-democratas, que menosprezaram os sinais de avanço das forças ligadas ao demagogo de Munique, fez com que eles fossem responsabilizados, perante a história, como cúmplices, por omissão, da ascensão dos nazistas ao poder.

Aqui, os equívocos da oposição estão nos arrastando para a consolidação de uma só força política, tirando os espaços para a viabilização de propostas alternativas de exercício do poder.

Enfim, ou o PSDB compreende a importâncias das eleições municipais em São Paulo e age para enfrentá-las com competência, ou não poderá se lamentar, no futuro, por se encontrar em dificuldade para se apresentar à sociedade brasileira.

Como está, não vai dar. O adversário é forte. Cumpre não menosprezá-lo. Além de tudo, é ardiloso e capaz de lançar mão de qualquer recurso para ganhar as eleições. Para eles, tudo é permitido, exceto perder.

Por isso, o que se espera da oposição, além de não agir como eles, é maturidade. Que escolha um candidato competitivo e capaz de agregar apoios, sem se enfiar numa camisa de força que pode agradar alguns milhares de filiados, mas que não atende às expectativas da sociedade.

Ela, alheia às disputas internas de partidos políticos, quer e precisa de uma figura com que possa se identificar e depositar esperanças de um futuro melhor para si e para a sua cidade. É isso. Juízo é o que interessa. O resto não tem pressa.

-

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.