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Fernando Rodrigues

Quem confia na polícia?

BRASÍLIA - Era um sábado de 1994 e eu estava de folga durante a cobertura da Copa do Mundo nos Estados Unidos. De carro alugado, fui de Los Gatos a São Francisco.

Depois do jantar e tomar algumas cervejas, já de madrugada, pisei no acelerador para retornar ao hotel em Los Gatos, cidade na qual estava hospedada a seleção brasileira de futebol. Haveria jogo no domingo. Eu precisava dormir um pouco.

No meio do caminho, numa quase deserta "highway" californiana, passei a ser perseguido por um carro da polícia local. Parei. Deu-se então aquela cena de filme. O policial iluminou minha cara com um farolete. Ordenou que eu descesse lentamente do carro. Tive de provar que, apesar das cervejas, estava sóbrio -basicamente, fui obrigado a repetir movimentos ordenados com os braços e as pernas.

Em seguida, o guarda me pede os documentos. Pânico. Estavam no hotel. No porta-luvas, só os papéis do carro alugado e a credencial da Fifa, uma organização tão conhecida nos EUA como uma federação de hóquei no gelo no Brasil.

Eu poderia ter sido multado e preso. Mas o policial entendeu não ser necessário. Passou-me um sermão sobre as leis e o limite de velocidade. Deixou-me seguir viagem. Foi uma decisão civilizada. O efeito corretivo de dar um susto no repórter cucaracha já estava contabilizado.

Relato essa história por causa da convulsão de policiais brasileiros. Pouco se fez nas últimas décadas para melhorar os serviços oferecidos por esses profissionais. Eles querem melhores salários, mas quantos agirão da forma descrita acima na Copa de 2014? A presidente Dilma Rousseff declarou-se estarrecida. OK. Mas ela, Lula, FHC e governadores trabalharam pouco nos anos recentes para evitar situações caóticas como a atual. E menos ainda para civilizar a forma como os policiais trabalham e se relacionam com os cidadãos.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

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