Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ruy Castro

Fim do mundo em prestações

RIO DE JANEIRO - Não ligo para horóscopos ou zodíacos, donde só fiquei sabendo com atraso do fim do mundo previsto pelos maias. Ou seja, o planeta já podia ter acabado e eu seria o último a saber. Informam-me agora que o mundo realmente acabará em 2012, mas não como se pensava que seria -de uma só vez, em fogo, enxofre e pestilência, que é a receita da Bíblia e do espanhol Vicente Blasco Ibáñez, autor do romance "Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse".

A novidade, segundo ouvi, é que o mundo já está acabando sob os nossos narizes -só que em prestações, com uma desgraça atrás da outra e cada qual mais horrível. Consultando os jornais desde o começo do ano, anotei várias calamidades que parecem justificar a tese.

No dia 13 de janeiro, na costa da Toscana, houve o naufrágio do navio italiano Concordia, provocando a morte de 16 pessoas, o desaparecimento de outras tantas e o pânico de milhares de passageiros. No dia 25, um prédio de 20 andares desabou no centro do Rio, levando consigo um sobrado e outro prédio, de dez andares, matando pelo menos 17 pessoas. Nesta semana, outro prédio desabou sozinho, só que na Grande São Paulo.

No dia 31, a PM baiana entrou em greve por salários, deixando Salvador ao desabrigo às vésperas do Carnaval, o que resultou em arrastões, saques, terror e 108 mortes apenas nos primeiros sete dias. No dia 2 de fevereiro, no Egito, uma briga de torcidas num estádio de futebol perto do Cairo deixou 74 mortos e 1.500 feridos. Dois dias depois, na Síria, forças militares ligadas ao governo bombardearam uma área residencial em Homs, bastião da oposição, e mataram mais de 200 pessoas, inclusive crianças.

O fim do mundo à antiga tinha a vantagem de passar um rodo geral. Todo mundo, bandidos e mocinhos, pecadores e inocentes, morria ao mesmo tempo.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.