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Grécia no limite

Saída da zona do euro não está ainda descartada, apesar do voto favorável a programa de ajuste no Parlamento de um país em convulsão

A aprovação no Parlamento de um draconiano pacote de austeridade não chega a dar um desfecho para o drama da Grécia. Os cortes chegam a € 3,3 bilhões (1,5% do PIB). A rodada de arrocho é exigência de outros membros da zona do euro para liberar novos fundos.

Longe de significar uma esperança de cura, a terapia se limita a elevar a dose do remédio que até agora não recuperou o paciente.

O fracasso em cumprir o primeiro acordo, de dois anos atrás, fez ruir a confiança nos gregos. Os líderes europeus agora exigem garantias prévias. Por outro lado, a grave recessão -em 2011, o PIB caiu 6%; espera-se queda de 5% neste ano- indica que o medicamento foi mais tóxico do que se contava.

O novo plano de ajuste é duro com a Grécia. Para reduzir a dívida pública de 160% a 120% do PIB em 2020, recorre a três pilares: corte de gastos, reestruturação da dívida e injeção de novos fundos.

O pesado ajuste prevê economia equivalente a 7,5% do PIB em cinco anos. Inclui várias medidas recessivas, como a redução de 22% no salário mínimo e demissão de 15 mil funcionários públicos em 2012.

A reestruturação da dívida de € 350 bilhões precisa sair neste mês, pois há vencimentos de monta em março. Os credores privados -que detêm € 150 bilhões- aceitaram redução de até 70% em seus direitos. O Banco Central Europeu contribuiria com cerca de € 15 bilhões. Isso traria alívio imediato de 40% a 50% do PIB na dívida.

Por fim, o FMI e o fundo europeu de estabilização fiscal criado em 2011 propiciarão € 130 bilhões em financiamento adicional.

Os três elementos se complementam. Sem os cortes, o aumento da dívida não seria contido. Sem a redução na dívida atual, o ajuste seria inútil. E sem os recursos de longo prazo, não haveria tempo para a Grécia ter alguma chance de equilibrar as finanças.

A aprovação no Parlamento abre um caminho, mas não constitui garantia de sucesso. O nível de endividamento ainda será alto, e o torniquete sobre o orçamento pode revelar-se social e politicamente inviável. Exigir mais da Grécia, em lugar de aceitar um desconto maior da dívida, é arriscar ruptura ainda mais grave que a prenunciada nos distúrbios de rua, como sua exclusão da zona do euro.

A experiência internacional dá margem para algum otimismo de que, no médio prazo, o país poderia estar melhor com sua própria moeda. Mas o governo evitará tal aposta enquanto houver perspectiva de sucesso na rota atual.

A disposição dos europeus de exercer mais pressão sobre a Grécia parece indicar que o eventual abandono do euro já não soa tão impensável. A mensagem é clara: se o plano não for cumprido, o país será abandonado à própria sorte.

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