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Geleia geral

Serra dá sinais de que pode tornar-se candidato e embaralha mais o já confuso vale-tudo da sucessão na prefeitura paulistana

Décadas atrás, circulava a expressão "geleia geral brasileira", usada para designar a falta de conteúdo ideológico da política nacional. Desde então, essa característica se acentuou a ponto de dominar quase por completo nossa desoladora paisagem partidária.

O melhor exemplo está na disputa pela prefeitura da cidade mais desenvolvida do país, São Paulo. O ex-ministro Fernando Haddad, candidato do PT -partido de esquerda, ainda que moderada-, parece prestes a selar aliança com o prefeito Gilberto Kassab, conservador egresso do DEM, partido situado à direita no espectro ideológico.

No centrista PSDB a confusão não é menor. Como o ex-governador José Serra, visto como o melhor candidato na agremiação tucana, não se dispunha a concorrer, organizaram-se prévias, previstas para 4 de março, a fim de escolher um entre quatro postulantes de menor expressão eleitoral.

A disputa interna seria um caminho legítimo para revitalizar o PSDB paulista, que sofre o desgaste decorrente do longo predomínio na política local. Mas eis que, na undécima hora, José Serra emite sinais de que quer ser o candidato.

Para complicar o que já era confuso, o prefeito Kassab, líder do recém-criado PSD, declara-se apoiador de Serra caso este venha a ser o candidato do PSDB. Já o governador tucano Geraldo Alckmin prefere Serra, até para afastar um possível concorrente na sua planejada reeleição, em 2014.

Consta, porém, que o governador nutre simpatias por outro pretendente, o deputado Gabriel Chalita, ex-peessedebista hoje abrigado no PMDB, a quem poderia apoiar caso o candidato tucano, seja quem for, não chegue ao segundo turno nas eleições deste ano.

Não seria de esperar, talvez nem de desejar, que os partidos brasileiros tivessem a nitidez ideológica que é comum nos partidos europeus ou mesmo nas duas maiores agremiações norte-americanas. Nossa cultura política é outra.

Mas não é demais exigir que se respeite um mínimo de identidade programática. No âmbito nacional, tucanos e petistas -variações de centro e de centro-esquerda da vertente social-democrata- vinham mantendo certa coerência em suas trajetórias, por mais que convergissem nos últimos dez anos.

Agora, sob o pretexto de que esta é uma era "pós-ideológica", parece instalar-se o vale-tudo em escala inédita. Partidos, discursos, programas -tudo se torna mero instrumento a serviço do carreirismo de cada político, numa desfaçatez que dispensa até mesmo a hipocrisia das aparências.

De degradação em degradação, o risco é que todos os partidos -e não apenas a maioria dos 29 em atuação no país- acabem convertidos em legendas de aluguel.

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